Editorial Conflito histórico

Publicado em: 16/05/2018 03:00 Atualizado em: 16/05/2018 08:53

Descomunal e questionável a repressão levada a cabo por tropas israelenses contra palestinos que vêm protestando contra a transferência da embaixada dos Estados Unidos da capital Tel-Aviv para Jerusalém, cidade disputada há séculos por árabes e judeus. Inegável que os dois povos têm direitos históricos sobre a posse das terras daquela porção do Oriente, mas a solução para o conflito não se dará pelas armas e pela matança, mas sim pelo diálogo franco e aberto. Os interesses são muitos e antagônicos, mas apenas por meio de negociações se encontrará a solução definitiva para problema de tamanha grandeza.

Dezenas de jovens palestinos que fustigavam as forças militares israelenses com pedras e bombas incendiárias perderam a vida nos confrontos dos últimos dias. Foram recebidos a tiros de munição letal, numa reação desproporcional. Na Faixa de Gaza, enclave dominado pelo grupo radical Hamas entre o Egito e o Estado judeu, cerca de 2 mil palestinos ficaram feridos. Pelos dados do Ministério da Saúde de Gaza, perto de 450 foram baleados e outras centenas sofreram outros tipos de lesões, inclusive por gás lacrimogênio.

Causa preocupação nos círculos políticos internacionais é o recrudescimento do conflito no Oriente Médio, pois o número de mortos na atual onda de protestos é o maior desde os enfrentamentos, de um mês e meio, em 2014, quando mais de 2.100 palestinos perderam a vida. Os israelenses sofreram 66 baixas militares e cinco civis. As manifestações atuais se inserem na sequência de atos iniciados em 30 de março passado — a Grande Marcha do Retorno — e teve seu ponto culminante ontem, quando os palestinos lembraram o que ficou conhecido como o Dia da Catástrofe.

Em 15 de maio de 1948, um dia depois da criação do Estado de Israel pela Organização das Nações Unidas (ONU) — com voto favorável do Brasil —, judeus passaram a ocupar grande parte dos territórios onde antes viviam os árabes. Pela estimativas da época, mais de 700 mil palestinos deixaram seus lares e fugiram para países vizinhos. Tudo isso sob a supervisão da Grã-Bretanha, que passou a deter a administração de vasta porção do Oriente Médio após o fim da Primeira Guerra Mundial e a queda e partilha do Império Otomano.

Inúmeros países se posicionaram contrariamente à forma como Israel vem lidando com as últimas manifestações, principalmente contra o uso de munição letal. A comunidade internacional reconhece que Israel tem o direito de proteger suas fronteiras, mas pede que o Estado judaico aja com moderação ao lidar com os manifestantes, jovens e adolescentes em sua esmagadora maioria. O povo palestino tem o direito de viver pacificamente em um Estado nacional, assim como os hebreus em Israel, criado há 70 anos. A solução de dois estados convivendo harmonicamente, lado a lado, é o único caminho que garantirá a paz na região, umas das mais explosivas do mundo.

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