Editorial Tempo de Copa, hora de denúncia

Publicado em: 15/05/2018 03:00 Atualizado em: 15/05/2018 09:07

Dar poder a vítimas de preconceito e violência tem sido a principal arma para fazer com que a sociedade se torne mais justa e os direitos sejam mais respeitados. Áreas que antes eram tratadas como um mundo à parte, como é o caso do esporte, agora entram nesse debate de forma irreversível. Em época de Copa do Mundo, em que somente a tática e a festa da torcida antes importavam, hoje é um momento extremamente oportuno para que denúncias de abuso e assédio alcancem mais pessoas, a fim de que responsáveis sejam punidos e as vítimas — principalmente crianças e adolescentes — não sofram mais com esse tipo de situação.

Hoje, por exemplo, a Câmara dos Deputados promove um debate sobre o abuso sexual infantil no futebol brasileiro. A audiência pública, realizada pela Comissão de Esportes, tem como objetivo discutir o Projeto de Lei nº 9622/18. Nele, o patrocínio de bancos públicos só pode ocorrer com ações efetivas de combate à violência por parte dos clubes esportivos. Uma das convidadas é a nadadora olímpica Joanna Maranhão. Ela é uma das precursoras no sentido de denunciar o abuso: sofreu, inclusive, críticas por contar que sofreu abuso do treinador quando tinha apenas 9 anos de idade.

A coragem da pernambucana Joanna tem reflexos hoje, quando chega ao conhecimento do público os casos ocorridos com crianças e adolescentes da ginástica artística. O suspeito, o ex-treinador Fernando de Carvalho Lopes, foi denunciado por diversos atletas, que só não o fizeram antes por medo e porque os próprios pais não acreditavam. A cultura de que técnicos e professores são intocáveis, por serem autoridades, também precisa ser questionada nesse sentido, principalmente pela família dos jovens. Se a vítima não encontra apoio com os parentes fica complicado imaginar o fim dessa crueldade.

A punição é o próximo passo para que esse tipo de violência acabe no país. Nos Estados Unidos, o médico Larry Nassar, também da ginástica artística, foi condenado a 360 anos de prisão. Contra ele pesaram os depoimentos de mais de uma centena de atletas, inclusive campeãs olímpicas. Exemplos assim fazem com que o tal medo de denunciar uma autoridade seja extinto, e que o esporte entre no rol das áreas em que a palavra da vítima tenha o peso fundamental para que barbáries assim não saiam impunes. Se for necessário que a Copa do Mundo seja aproveitada para que essas perversidades ganhem foco, não há problema. Pior é pensar que eventos esportivos de porte só sirvam para festa e papo de bar. A integridade de nossas crianças e adolescentes tem uma importância bem maior.

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