Editorial Blindagem só com reformas

Publicado em: 10/05/2018 03:00 Atualizado em: 10/05/2018 09:21

Sem crédito no mercado nem reserva cambial, o governo da Argentina recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Com um empréstimo de US$ 30 bilhões, a juros bem mais baixos, o presidente Maurício Macri acredita que poderá acalmar os investidores e dar continuidade ao crescimento do país. A saída encontrada por ele, porém, acende sinal de alerta no continente sul-americano. Nos anos 1980 e 1990, boa parte dos países se viu nas mãos do Fundo, que ditava as regras do jogo na economia e interferia na política interna.

Para uma grande parte de analistas, não há risco de a região reviver os dramas enfrentados por duas décadas no passado. O Brasil, como a maior economia sul-americana, está saindo de um processo gravíssimo de recessão, iniciado em 2014, que começou a ser vencido no ano passado. Detém US$ 380 bilhoes em reservas internacionais e é credor em dólar. Mas isso não deixa o país blindado, a ponto de ficar em alerta com a situação da vizinha Argentina.

O rombo fiscal do Brasil deverá fechar o ano em R$ 159 bilhões. A repercussão da Lava-Jato e de outras operações de combate à corrupção, envolvendo políticos e empresários, embaraçaram a aprovação de medidas importantes, principalmente as reformas da Previdência e tributária, para que a economia brasileira deslanchasse. As mudanças nas regras trabalhistas ainda não surtiram os efeitos prometidos. Hoje, são 13,7 milhões de desempregados, e o país está longe da recuperação desejada.

A menos de seis meses das eleições presidenciais, os investidores se mantêm tão ou mais cautelosos do que no auge da crise política em 2016. Embora as candidaturas não estejam definidas claramente, a maioria da população tem sido refratária aos pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Eles fogem das questões estruturais — no caso, as reformas indispensáveis ao equilíbrio das contas públicas — e se apegam a promessas populistas, as mesmas que empurraram o país para o fundo do poço.

Indiscutível que conter a inflação, derrubar as taxas de juros, aproximando-as do patamar de país civilizados, são medidas de extrema importância. Mas só isso é insuficiente. O mais importante é zerar o déficit fiscal e dar ao Estado capacidade de investir para alavancar o desenvolvimento. Criar condições de retomada efetiviva do crescimento, com a aprovação de marcos legais que aumentem credibilidade ante os investidores internos e externos e elevem a oferta de emprego nos setores produtivos.

Sem mudanças na pesada estrutura administrativa do Estado, que suga o bolso do cidadão, dificilmente será possível romper o secular ciclo de desigualdades socioeconômicas, que torna o país menor. Não basta alardear aos quatro cantos do mundo que a situação brasileira é diferente da Argentina, para evitar que uma onda de desconfiança avance sobre a economia nacional. É preciso agir e tornar real a imagem que se pretende lançar do Brasil no exterior.

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