Arte em toda parte

Marly Mota
Membro da Academia Pernambucana de Letras. Colaboradora do Jornal de Letras do Rio de Janeiro.

Publicado em: 09/05/2018 03:00 Atualizado em: 09/05/2018 08:55

À margem da Avenida Caxangá na BR-232, ao lado do belo e bem planejado Jardim Botânico do Recife, chega-se ao vizinho bairro do Totó, à Rua Pio XII nº 37, com a placa: “Micro Moldura Junior”, onde com aptidão o mestre Ademir Jorge dos Santos, ao lado dos filhos Henrique e Junio, (assim mesmo sem o R) atendem à clientela. São colecionadores da arte da azulejaria, portuguesa e alguns bons pintores de Pernambuco, aos mais simples eu me incluo. Vejo-o com mãos calosas por expressar a sua arte lidando com a madeira, em belas molduras. Em Portugal chamavam de caixilhos. Eça de Queiroz em seu livro Os Maias, citando alguns pintores famosos, apontando para um deles, diz: “Este é de Constable o retrato da Condessa de Runa sogra de Afonso da Maia. Vestido vermelho de plumas escarlate de caçadora inglesa, com o fundo de paisagem enevoada, parece querer sair do caixilho, para continuar a sua raça”. Em se tratando de madeira, Ademir Jorge dos Santos é um artifinalista: “Madeira que o cupim não rói.”

Sou artista plástica e tenho o mestre Ademir como moldureiro das exposições que realizei através dos anos, até hoje. Exceção da 1ª em 1967 realizada no Hotel São Domingos do Recife. As exposições que realizei no estado de Pernambuco e fora do país, a exemplo das Cenas Freyrianas, Cenas Mauromoteanas, e Cenas Ecianas, expostas em outras cidades de Portugal. Em Lisboa no Instituto Camões, em Guimarães, na Biblioteca Raul Brandão, onde Miguel Torga, com olhos voltados para as Cenas Ecianas interessado ficou em adquirir alguns dos quadros. A Biblioteca Rocha Peixoto interessada adquiriu antes, toda a coleção, para o Museu de Etnografia e História, da Póvoa de Varzim. Cidade onde nasceu Eça de Queiroz. Até perdi quantos quadros já pintei, todos com molduras passadas pelo crivo do mestre Ademir Jorge dos Santos, que atende com a mesma atenção, clientes ou não. Essa é a sua marca pessoal, e da sua família.

Chamo a atenção dos meus amigos, dos que circulam pela BR-232, para “Arte em toda parte”. À entrada de Moreno, trabalha de sol a sol um humilde artesão Romildo Pereira dos Santos, que executa peças artesanais, expondo-as penduradas em uma corda atada entre dois arbustos. Ali precariamente trabalha, e não se arrefece do seu rústico espaço, dando relevo ao material reciclado: pneus de carros e bicicletas, retirados das estradas e dos entulhos. O poeta Maurício Motta, encantado com a bicharada: Tatus, macacos, jacarés, cobra, tucanos, diz que o Sr. Romildo é um artesão nato. No trato com a borracha, material de difícil execução no rústico espaço onde vive e trabalha.

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