Editorial Lições para os candidatos

Publicado em: 08/05/2018 03:00 Atualizado em: 08/05/2018 09:13

Os sinais estão cada vez mais evidentes para aqueles que pretendem disputar a Presidência da República em outubro próximo. Vêm, sobretudo, da Argentina e da Turquia, cujos bancos centrais foram acionados para tentar conter as fortes desvalorizações de suas moedas. Os dois países estão sendo vítimas da desconfiança dos investidores. Apesar das repetidas promessas, não conseguiram domar a inflação e enfrentam expressivos déficits fiscais.

É verdade que o Brasil está em uma situação um pouco mais confortável. A inflação está no nível mais baixo em duas décadas, o que permitiu que a taxa básica de juros (Selic) desabasse para patamares históricos. Mas esse quadro pode mudar rapidamente se o próximo governante não assumir um compromisso claro com o ajuste fiscal. Até agora, nenhum dos que se apresentam como candidatos ao Palácio do Planalto indicou o que fará efetivamente para arrumar as finanças do país.

O que se viu no governo de Michel Temer, em relação às contas públicas, foram paliativos para impedir o crescimento dos rombos fiscais, que se mantêm persistentes e não serão revertidos a médio prazo sem políticas efetivas de controle de gastos. Na melhor das hipóteses, o Brasil terá oito anos seguidos de déficits nas suas contas. Somente em 2022, acredita-se que as finanças voltarão ao azul, ainda assim se o próximo presidente se comprometer com reformas.

O país perdeu uma chance importante de se blindar de vez de crises, ao não aprovar, neste ano, ajustes na Previdência Social. Caso o Congresso tivesse optado pelo bom senso e priorizado o bem geral da nação, certamente não estaríamos nos preocupando com a onda de desconfiança que varre a Argentina e a Turquia. O BC argentino foi obrigado a elevar a taxa básica de juros para 40% ao ano, a maior do mundo. O BC turco restringiu o volume de negócios com dólar pelos bancos.

Além da inflação de dois dígitos e das contas públicas no vermelho, a Turquia terá eleições em junho próximo, pleito que foi antecipado em mais de um ano, como forma de reforçar o poder do atual governo, claramente autoritário. Os investidores se perguntam qual é a garantia de que, depois do pleito, a Turquia fará ajuste fiscal e colocará a inflação nos eixos. No Brasil, os questionamentos não são muito diferentes. Teremos eleições e os que se dizem candidatos optam por discursos descompromissados com o equilíbrio das contas, pondo em risco o controle da inflação.

Aqueles que realmente querem assumir o comando do país não podem se apegar a discursos vazios, cheios de promessas que não serão cumpridas, apenas com o intuito de vencerem as eleições. O país não aguenta mais populistas. Já está pagando um preço alto demais pela recessão ao qual foi empurrado, que tirou quase 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em dois anos e criou um exército de mais de 13 milhões de desempregados.

Os candidatos devem ter a grandeza de falar de temas prioritários, mesmo que impopulares, para ampliar o nível do debate no país. Nos últimos dois anos, o capital foi complacente com o Brasil, como foi com a Argentina de Maurício Macri. Lá, a máscara já caiu. Aqui, ainda há tempo de se livrar do pior. O primeiro aviso já chegou: de meados de janeiro até ontem, o dólar saltou de R$ 3,13 para R$ 3,55. Não é só. Semanalmente, o mercado vem reduzindo as projeções de crescimento para o ano. Portanto, senhores presidenciáveis, juízo.

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