Editorial A passividade não impede as agressões

Publicado em: 04/05/2018 03:00 Atualizado em: 04/05/2018 08:52

A agressão de um adulto a um adolescente, numa lanchonete, no Recife, tornou-se um dos principais temas de conversa na cidade. A cena, gravada em um celular, foi divulgada inicialmente nas redes sociais e depois reverberada na imprensa. Mostra o adulto -um homem forte, com músculos à mostra - primeiro agarrando o jovem pelo pescoço e, em seguida, dando-lhe um forte tapa no rosto. Em qualquer situação, mesmo que envolvesse dois adultos da mesma compleição física, o episódio já seria suficiente para causar comoção, pela brutalidade do gesto. No caso mencionado, a comoção tornou-se maior e ganhou ares de revolta pela desproporção do físico e da idade dos dois.

O caso chegou à polícia e ontem o pai do jovem prestou queixa no Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a denúncia. Por meio de uma advogada, o agressor afirmou que agiu “em defesa de sua filha (de 5 anos) pelo constrangimento ocorrido”.  O jovem teria dado um grito, que assustou a criança. A nota divulgada pela advogada diz que “ao contrário do que está sendo narrado, não foi um simples grito que gerou a situação, inclusive as imagens serão disponibilizadas pelo estabelecimento a fim de comprovar o episódio narrado”.

A polícia há de apurar o que houve e formar o quadro em sua inteireza - sabemos todos que, nos dias de hoje, as cenas em vídeos divulgados nas redes sociais não trazem o episódio por inteiro, com começo, meio e fim. Independentemente disso, porém, diante do que foi visto até agora, no ambiente em que se deu o ocorrido, não há justificativa para uma agressão como a que vimos. O vídeo mostra o jovem pedindo desculpas antes de ser fisicamente agredido.

Chama atenção, também, a passividade da quase totalidade das pessoas que estavam no local, naquela hora. O responsável pela segurança não consegue impedir a brutalidade e nenhuma das pessoas intervém, tentando apaziguar a situação. Não para brigar com o adulto, mas para tentar evitar que o descontrole acabasse descambando para o que acabou acontecendo. Ninguém diz algo do tipo “cidadão, por favor”; nenhum dos clientes se interpõe entre o agressor e o adolescente. Nenhum gesto. Nada. No final -depois de o garoto ser agarrado pelo pescoço e esbofeteado -, uma mulher o arrasta pela camisa para longe do agressor.

Temos, neste caso, um desentendimento que degenera para uma agressão física; um adulto que esbofeteia o rosto de um garoto; um vídeo divulgado em redes sociais, tornando a cena íntima de todos nós, e a passividade de quem está no local vendo tudo acontecer e não move uma palha para impedir.  É mais do que um episódio de violência que precisa ser apurado - é uma crônica dos dias que estamos vivendo.

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