Arte, crônica e encanto

Nagib Jorge Neto
Jornalista

Publicado em: 03/05/2018 03:00 Atualizado em: 03/05/2018 05:59

Alguns jornalistas, artistas e intelectuais, lembram com frequência o poder criativo da geração dos anos 50/60, do século passado, e lamentam ou criticam a ausência de renovação dos que surgiram nas décadas de 70/80 ou neste século, tidos como pobres em talento, em quantidade e qualidade. É uma visão ilusória, que convém ao ego ou glória vã dos que têm espaço na mídia, nas editoras ou na internet, e tendem a ignorar as mudanças, o avanço da tecnologia, o modelo econômico e a pregação perversa do sistema ultraliberal.

É parte de um projeto ideológico, de dominação e alienação, questionado por escritores como Olimpio Cruz Neto – PLAYLIST Crônicas Sentimentais de Canções Inesquecíveis (edição da Amazon) - arte e resgate de uma viagem pelo universo do cinema, da música, humor, entretenimento, rebeldia e sonho de paz, É arte universal, brasileira, rica de imagens, fluência narrativa, num grande palco que abre com a magia de Charles Chaplin (Smile, Limelight), genial como ator, compositor e crítico da tecnologia, de valores e costumes, da guerra, que resultou na reação do senador Joseph McCarthy que o acusou de traição à pátria e de ser comunista, nos anos 50, provocando seu exílio. Chaplin amargou o afastamento, mas insistia que o filme tratava de descrever a busca da felicidade pelo indivíduo e também pela própria indústria e pela humanidade. Diante da repressão, da intolerância, jamais perdeu a esperança.

Nessa aventura, a narrativa do autor é simples, linear, - complexa e lúcida nos cortes - num diálogo feliz com a história, intervenções lúdicas ou líricas, sem perda do ritmo, da indignação, do compromisso com o humano e divino. Por aí, com a força do sentimento, Olimpio alcança o “vento leste, a ciência da aranha, da abelha,”, (como diria João do Vale) que os autores jovens, alguns na faixa de 26 anos, vão tecendo e encantando na escrita, na pintura, na música, no cinema e teatro.

A escrita de Olimpio Cruz Neto – que vai além do jornalismo ético, comprometido – ganha destaque com o trabalho de pintor, artista, que recria momentos de ação, movimento, alegria, tristeza, violência, sensualidade e paixão. No conjunto, todos (as) são expressões de sua geração, dos anos 1960/70 - do rock, do jazz, do blues, do foxtrot, de woodstock – três dias de paz e amor - da contracultura, dos seriados, filmes de violência, mistério e clássicos que marcaram outras gerações. Nessa linha, a obra é inovadora, encantatória, com ritmo narrativo pleno de leveza, graça, entusiasmo e engajamento.

A obra se completa, pois, em estado de graça, e melhor do que se possa adiantar sobre sua dimensão é bastante a síntese do autor - A mensagem é universal: é preciso segurar a onda, mesmo diante das adversidades. Quando as dores humanas nos engolem e os tormentos parecem inexpugnáveis, situação que passamos todos em algum momento da vida, não podemos nos deixar abater. É preciso esboçar uma reação, a mais humana, para acender a esperança no peito: sorrir.

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