O pior problema nacional

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE
jslzdelgado@gmail.com

Publicado em: 02/05/2018 03:00 Atualizado em: 02/05/2018 09:10

Se o país indagasse sobre seus problemas, é possível que viesse a concluir que o pior problema nacional hoje são os políticos, é a qualidade, ou a falta de qualidade, a péssima qualidade, dos nossos homens públicos. Sempre haverá exceções, é evidente, e alguns nomes ainda se salvam, poucos, raros, mas há, nomes que, apesar de tudo, honram a política, mesmo na atualidade. De modo geral, porém, os nossos políticos estão hoje num nível deplorável, nível de cadeia, e, pior, como nunca fora visto antes. Pois essa é tragédia relativamente recente. Não era assim antecedentemente. Eram de outra envergadura os políticos da Constituição de 1946. Como eram outros, também muito melhores, os políticos da chamada República Velha. A culpa terá sido do regime militar? Sob certo aspecto, talvez sim. Porque, havendo relegado a atividade política, esta, ao invés de continuar a vir se encorpando, como vinha desde 46, foi abandonada, dela se afastando muitos, de sorte que, quando foi retomada a partir de 1985, patifes se apossarem dela, aventureiros interessados somente nas regalias e nas vantagens que ela poderia lhes proporcionar. Uma escória, um rebotalho, marginais literalmente desqualificados. E ousam dizer que estamos “criminalizando a política”. Eles é que a criminalizaram, porque o que são é bandidos. O Brasil não os merece.  

Quantos deputados e senadores não temos hoje simplesmente denunciados e processados? Não é isso escândalo inadmissível? Como permitir que esses personagens continuem na vida pública, a pretexto de uma “presunção de inocência” que (se é legítima em relação aos cidadãos comuns) absolutamente não pode prevalecer quanto aos homens públicos, do quais se requer e se espera exemplaridade? É urgente  impedir que possam candidatar-se  todos quantos estejam denunciados e processados (não precisa terem sido condenados). Por que não? Que prejuízo teria o país com essas ausências? Serão, por acaso, legisladores do nível de Rui Barbosa, Paulo Brossard, Ulysses Guimarães, e tantos mais, que estaríamos perdendo? Ou são apenas mediocridades monumentais e, pior, criminosas, ou no mínimo altamente suspeitas? O que perde o país se não contar, na próxima legislatura, com esses indivíduos já denunciados e processados? Depois, provando suas inocências, que possam voltar na legislatura seguinte. Mas a faxina imediata é indispensável.

Por incrível que pareça, o problema nacional não é dinheiro. Sem a corrupção, dinheiro há, e muito. Apenas é fabulosamente desviado, vai em números astronômicos para o gozo e deboche desses péssimos políticos e seus familiares. Basta ver o que um Sérgio Cabral desviou no Rio de Janeiro. As montanhas – milhões, bilhões, números quase inimagináveis – que os políticos canalhas tiraram dos cofres públicos (isto é, dos impostos de todos nós), quantas mazelas nacionais não dariam para resolver? E continuamos inertes, conformados, acomodados diante disso, apenas esperando (aliás, sem tanta convicção assim) que a justiça faça sua parte? É preciso muito mais. Não só não os reeleger. Também impedir que sejam candidatos. É preciso vaiá-los em todos os lugares onde ousem aparecer. É preciso vomitá-los. Para ainda haver alguma esperança para o Brasil.

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