Editorial Pouco a comemorar

Publicado em: 01/05/2018 03:00 Atualizado em: 01/05/2018 08:43

Desde a greve de 1º de maio 1886 nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos, que tinha como finalidade a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, a situação do trabalhador no mundo melhorou muito. Ainda mais no Brasil, que, naquela época, ainda não havia sequer abolido a escravidão. O país foi um dos últimos do planeta a eliminar essa aberração, com a assinatura a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

É necessário notar, porém, que ainda resta um longo caminho a ser percorrido para que o mercado de trabalho seja mais igualitário. O salário das mulheres ainda é menor do que o dos homens quando executam as mesmas funções. Há, também pioras conjunturais. Apesar de a economia dar sinais de recuperação gradual da recessão de 2015 e 2016, a mais profunda da história do país, o desemprego voltou a aumentar.

Conforme os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio do trabalhador está estagnado neste trimestre em relação ao anterior, e existe um exército de 13,7 milhões de desempregados que não têm nada a comemorar no dia do trabalho. Outros 4,3 milhões de brasileiros estão em desalento, ou seja, já perderam a esperança de procurar emprego. Essas pessoas, em sua grande maioria, são pardos e negros. E, para piorar, pelo menos 26 milhões, incluindo desempregados e desalentados, se encontram em condições de subutilização do trabalho.

As manifestações programadas pelas centrais sindicais nesta terça-feira em todos os estados brasileiros pretendem destacar essa avaliação nada animadora, e avisam que há mais motivos para protestar do que para comemorar neste dia.

O feriado de 1º de maio foi instaurado no Brasil em 1925 pelo presidente Artur Bernardes, mas foi durante o governo de Getulio Vargas (1930-1945) que o dia ganhou status de comemoração. Em 1940, por exemplo, o então presidente criou o salário mínimo e, três anos depois, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que sofreu alterações recentes pela Reforma Trabalhista.

Hoje, o que se vê é um enxugamento do número de empregos com carteira assinada. Dados do IBGE mostram que, nos últimos quatro anos, cerca de quatro milhões de pessoas perderam o emprego formal. Especialistas apontam que é na informalidade que as vagas estão aparecendo. Portanto, os 32,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada certamente são os que podem comemorar neste 1º de maio.

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