Editorial A natureza tem pressa

Publicado em: 25/04/2018 03:00 Atualizado em: 25/04/2018 08:13

O plano de reparação por danos causados pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015, ganhou mais prazo. Vale, Samarco e BHP Billiton foram beneficiadas pela decisão do juiz da 12ª Vara Federal de Minas Gerais Márcio de Paula Franco Júnior, que acatou o pedido de prorrogação feito pelas empresas. Agora, as partes terão até 25 de junho para apresentar em juízo a conclusão.

O prazo terminaria em 20 de abril, às 19h, e seu descumprimento significaria a volta à tramitação da ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF), no valor de R$ 155 milhões. É a quarta vez que a entrega do plano é adiada, arrastando o sofrimento das vítimas da tragédia, que deixou 19 mortos, arrasou completamente o distrito de Bento Rodrigues e deixou um rastro de destruição ambiental que acompanhou o Rio Doce até o litoral do Espírito Santo.

O rompimento da barragem em Mariana soterrou esperanças. Além das vidas arrastadas com a lama, casas, carros, animais, lembranças, empregos, histórias. Tudo mudou na vida das famílias afetadas. Os rejeitos de minério roubaram de muitos o que conheciam como dignidade. Enquanto as vítimas aguardam decisões judiciais que permitam a recomposição ambiental, a indenização financeira e a reconstrução do vilarejo, os casos de depressão avançam.

O pequeno auxílio financeiro emergencial recebido por mais de 8 mil famílias em Minas e no Espírito Santo não ocupa o vazio deixado pela rotina produtiva que não existe mais. As ações de recuperação ambiental já apresentam sinais de ineficácia comprovados pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e pelo Ministério Público. Garimpeiros ilegais, pecuaristas e agricultores derrubam as cercas instaladas para permitir a recomposição natural de áreas afetadas.

A lentidão da Justiça empurra a esperança para o lugar da incerteza. Embora tenha concedido a prorrogação solicitada pelas empresas, o juiz Márcio de Paula Franco Júnior registrou, em sua decisão, o que chamou de ritmo "visivelmente inapropriado" das tratativas do acordo. Entre o local do maior desastre ambiental do país e o mar, quase 30 meses depois, é o desalento que acompanha a devastação. A natureza, inclusive a humana, persiste com a bravura que consegue, mas a Justiça precisa provar que não está surda a seus apelos.

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