Memória política

Francisco Dacal
Administrador de Empresas

Publicado em: 24/04/2018 03:00 Atualizado em: 24/04/2018 09:12

Brasil, 1967. Rio de Janeiro. Terceiro ano da ditadura militar. Atuantes figuras do meio intelectual e artístico realizaram um réveillon que entrou para a história da sociedade carioca e da política brasileira. O novo ano foi agitadíssimo. Em dezembro foi promulgado o AI-5.

1968: o ano que não terminou, livro do jornalista e escritor Zuenir Ventura, habilmente reconstitui o período. Foi publicado com sucesso em 1988, após a redemocratização, quando, à época, havia um sentimento de esperança para novos e melhores tempos.

A história nacional seguiu seu caminho republicano, democrático... No agora distante 2018, qual é o resultado? Os fatos atuais dizem tudo. A frustação é enorme.

Há uma unanimidade, não “burra”, de que a corrupção se tornou o grande mal. Ela se alastrou no establishment brasileiro como águas do dilúvio. Consequentemente, considerando os desvios de foco, e as muitas incompetências, o futuro do país é de incertezas.

Por ela, direta ou indiretamente, um aviltante passivo político foi construído nas últimas três décadas, intensificado na última. Dois impeachments (ou “golpes”), Collor e Dilma; um ex-presidente condenado, e preso, Lula; o presidente em exercício sendo investigado, Temer; vários políticos cassados, alguns presos e outros na fila de espera. Nesta, a maioria dos listados estão protegidos pelo contestado foro privilegiado, um desafio a ser superado em breve.

Como a esperança nunca morre, o Ministério Público, por meio da Operação Lava-Jato (4 anos), tem feito um tenaz combate aos ilícitos evidenciados. Vultosos valores desviados já foram restituídos aos cofres públicos. Vários dos responsáveis pelos malfeitos estão condenados, entre empresários e figuras de diversas bandeiras políticas, da direita à esquerda, porque ninguém está acima da lei.

Voltando a falar da importante obra de Zuenir, que merece uma releitura, é sintomática a última frase da introdução da mesma: “O conteúdo moral é a melhor herança que a geração de 68 poderia deixar para um país cada vez mais governado pela falta de memória e pela ausência de ética”.

1968, 1988, 2018 – meio século transcorreu. A crise ainda não terminou. Amanhã vai ser outro dia. Mas, quando outubro chegar, o povo, com memória, através do voto terá a oportunidade de fazer uma renovação geral no atual quadro político, vital ao aprimoramento e consolidação da nossa democracia.

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