Editorial Paraguai e Brasil

Publicado em: 24/04/2018 03:00 Atualizado em: 24/04/2018 09:12

O Paraguai elegeu novo presidente. Abdo Benítez, do Partido Colorado, venceu por margem apertada para comandar o país por cinco anos. Com o resultado, mantém a hegemonia da sigla que, em sete décadas, só ficou fora do poder durante um mandato. O pleito, marcado por certa apatia, levou às urnas cerca de 62% dos votantes. Em 2014, o percentual atingiu 68%.

O ex-senador herda um país com crescimento econômico, instabilidade política e enorme desigualdade social. Apesar da crise dos vizinhos Brasil e Argentina, Assunção tem tido incremento médio de 4% ao ano desde 2002. Segundo previsão do FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) terá salto de 4,5% em 2018. Os números alvissareiros se devem, sobretudo, à produção de soja, aliada à instalação de fábricas cuja produção mira o mercado brasileiro.

Ao contrário do que se possa imaginar, o boom econômico não beneficiou a maior parte da população. Nada menos de 26,4% dos paraguaios vivem na pobreza e 4,5% na miséria. Tampouco se traduziu em reversão da desigualdade. De 2013 a 2017, a parcela de pessoas que vive abaixo da linha de pobreza caiu somente 1,6 ponto percentual. Não só. Instabilidade política também deve preocupar Abdo Benítez. Recentemente a sede do Congresso ardeu em chamas.

Com programa de governo genérico, o presidente só se pronunciou sobre política externa no domingo. Prometeu dar prioridade à abertura do Mercosul para outros países. Também se solidarizou com o povo venezuelano e, a exemplo do antecessor, criticou a administração de Nicolás Maduro à frente do Palácio Miraflores.

A troca de governo, embora acene com a manutenção do modelo do quinquênio anterior, oferece oportunidade ao Brasil para negociar políticas de cooperação no combate ao crime transnacional. De um lado, há que enfrentar o contrabando, principalmente de cigarro. Além da evasão fiscal, o fato constitui problema de saúde pública. De outro, o tráfico de armas e drogas.

Uma dose de responsabilidade no comércio ilegal se deve ao Brasil. Grupos criminosos daqui dominam a produção de maconha no país vizinho para abastecer o mercado brasileiro. Trata-se de fator fundamental para a entrada de armas em território nacional, facilitada pela extensa fronteira seca e variada — estratégica para distribuir a carga por diferentes regiões e abastecer o exército do tráfico nas grandes cidades.

Parceria na guerra contra o crime organizado trará benefício às duas nações. Impõe-se controlar eficazmente a fronteira de ambos os lados, além de travar guerra inteligente à bandidagem que se alastra pelas principais cidades de norte a sul. A violência crescente tornou-se a preocupação número um dos brasileiros e assusta os paraguaios. É hora de a diplomacia sentar-se à mesa para encontrar saídas que beneficiem uns e outros.

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