Festa literária aumenta interesse pelo livro

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 23/04/2018 03:00 Atualizado em: 23/04/2018 09:12

Foram dois dias de festas com debates, depoimentos, revelações, análises. Estou falando do VI Festival RioMar de Literatura realizado no auditório da Livraria Cultura, reunindo negócios e leituras, de modo a chamar a atenção  para este tipo de manifestação intelectual que, dizem os especialistas, está destinado a desaparecer. Não é bem verdade, mas eles insistem. O E-book- versão virtual do livro - ainda se arrasta em computadores, celulares e tabletes.

Este ano, o sexto, a organização do Festival RioMar de Literatura decidiu homenagear a minha obra e a obra de Luzilá Gonçalves Ferreira, esta primeira-dama da literatura pernambucana, elegante e bela, atraindo a atenção de cerca de mil pessoas por dia, inclusive estudantes da escola pública. Aliás, um recorde. Fazia tempo, muito tempo mesmo, que eu não via tanta gente interessada em livros.

Foi encantador conversar com os leitores ávidos de nossas produções. De repente eu me perguntava: onde eles estavam? Onde se escondiam? Queriam autógrafos, fotos, abraços e se manifestavam o tempo todo com perguntas e breves comentários. Houve um instante em que me deu uma grande vontade de chorar. Deixe de timidez, chorei, chorei mesmo. E Luzilá ali ao lado, muito além do corpo, com sua invejável qualidade humana e literária.

Aliás, Luzilá estava impecável, sorridente e determinada. E enfrentava tudo com tranquilidade, falando ou ouvindo, relembrando nossos debates em outras ocasiões. Ocasiões humildes, de sala de aulas, alunos e professores. Tornando-me mais vivo e mais resistente. Cláudio Almeida tornou-me humano relembrando meus tempos de saxofonista no conjunto Os Tártaros, na companhia e Zé Araújo, Fred, Djilson e Walter. Relembrando O Relicário em festas e espetáculos.  Um tempo de afirmação e fantasia.

A grandeza de Flávia Suassuna espantou com uma vigorosa interpretação da literatura brasileira, desde o projeto de José de Alencar até o contemporâneo, situando a minha obra. Foi de rasgar a veia, sem dúvida. Flávia mostrou, com notável precisão, o lugar que minha obra e a obra de Luzilá ocupam na ficção nacional. Uma reflexão acadêmica e crítica da literatura e da realidade, com ênfase para o politicamente correto.

Mas quero destacar, sobretudo, a apresentação da Companhia Dispersos de Teatro adaptando, magistralmente, textos meus e de Luzilá. Fiquei muito emocionado com O Senhor dos Sonhos, a quem sempre dediquei um carinho imenso.  

Ali perto, e sempre ao nosso lado, a competência e a maestria de Margarida Cantarelli e de Carmem Peixoto, liderando uma equipe precisa, de forma a fazer o impossível, possível.  Para delírio da multidão e dos homenageados.

Com iniciativas assim o empresariado pernambucano é verdadeiramente aliado da literatura do estado e possibilita maiores avanços dos nossos escritores.

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