Editorial Desafios de Cuba

Publicado em: 23/04/2018 03:00 Atualizado em: 23/04/2018 09:13

A República de Cuba, desde quinta-feira, está, parcialmente, sob novo comando. A família Castro abriu espaço para a geração pós-revolução. Foi uma transição construída durante uma década. Miguel Díaz-Canel, nascido na ilha, após a revolução de 1959, foi preparado pelo então presidente Raúl Castro para dar continuidade ao processo de mudanças na economia, sem abrir mão do regime socialista. Ele é considerado tão linha dura quanto os Castros na defesa dos ideais revolucionários. Solidez ideológica, sensibilidade política, compromisso e fidelidade à revolução foram requisitos enaltecidos por Castro na passagem do comando da ilha para Díaz-Canel. Até 2021, porém, o irmão de Fidel continuará chefiando o Partido Comunista (PC).

Manter o sistema socialista e usufruir dos benefícios do capitalismo, assim como o fez a comunista China, é a equação que está colocada para Díaz-Canel. Diferentemente da potência asiática, Cuba não dispõe de recursos financeiros para potencializar seus planos de crescimento econômico. A aproximação com os Estados Unidos, depois de mais de meio século do embargo imposto pelos norte-americanos, iniciada no governo de Barack Obama, naufragou. O presidente norte-americano, Donald Trump, do partido Republicano, entregou o tema aos conservadores e recuou nos avanços construídos por Raúl Castro e Obama.

A mudança de governo no Brasil também impôs recuos às relações econômicas com Cuba, que envolviam a empreteira Odebrecht, a Petrobras e a biotecnologia. O ambiente, antes favorável, se tornou refratário ao estreitamento das relações entre os dois países. A Venezuela, a maior parceira dos cubanos na América Latina, ante a crise interna que enfrenta, tem menos vigor para apoiar as graduais mudanças na ilha caribenha. O retrocesso norte-americano não chega a ser empecilho para alargar a economia cubana, além da rota do Pacífico, Espanha, Reino Unido e a União Europeia não rechaçam possíveis acordos com Cuba. Ao contrário. Esses países estão abertos a entendimentos que deem vigor financeiro à ilha, que tem reconhecido grau de excelência nos campos da educação, da saúde e do turismo.

O interesse de nações do Velho Continente, os recursos comerciais e financeiros da China e o potencial energético da Rússia dão a Díaz-Canel espaço para fazer uma administração que rompa com a penúria imposta à população pela crise econômica da ilha. Há espaço também para a busca de vários parceiros e para manter em curso os projetos do antecessor e padrinho político

Mas somente isso não basta para alavancar o desenvolvimento. O novo presidente precisa conquistar os cubanos e também os velhos revolucionários que têm prestígio dentro da Assembleia Nacional e do PC, entre os quais fiéis escudeiros do então comandante Fidel Castro, morto em dezembro 2016, que sonhavam com o cargo hoje mãos de Díaz-Canel. Terá que ser sábio negociador para se impor como líder diante do povo cubano e do cenário internacional.

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