Mitos da educação: Ceará e Pernambuco

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/04/2018 03:00 Atualizado em: 23/04/2018 09:12

Em conversa recente com amigo paulista (Samuel Pessoa, articulista da Folha de São Paulo e professor da FGV-RJ), grande estudioso do desenvolvimento, ele me falou que é fato bem conhecido e sedimentado que o Ceará está à frente do resto do Brasil no que diz respeito à educação pública. Em encontro recente com vários dos maiores nomes da economia brasileira, ouvi novamente menção ao destaque do Ceará em educação, novamente sem haver qualquer elogio a Pernambuco. Na imprensa local, a cada novo indicador que surge, vemos sempre o destaque de Pernambuco como tendo o melhor desempenho em educação pública do Brasil, junto com São Paulo. Em meio a essas informações aparentemente contraditórias, cabe analisar o que de fato há de verdadeiro nesses discursos.

O indicador de qualidade da educação de maior reconhecimento internacional é o exame PISA, que é coordenado pela OCDE e aplica provas com alunos com 15 anos. Mais de 500 mil alunos de vários países no mundo fazem essas provas. Elas estão sendo realizadas agora em 2018 para uma nova rodada, mas os últimos dados disponíveis ainda são para 2015. Nele a nota média de Pernambuco foi de 379, enquanto no Ceará ela foi de 397. Esses estados tiveram a 18ª e 9ª posição no ranking de todos os estados brasileiros. A média nacional foi 395, ligeiramente inferior a do Ceará e superior a de Pernambuco. O estado brasileiro de melhor desempenho foi o Espírito Santo com 427. Percebe-se que ambos os estados não possuem grande destaque na qualidade da educação por esse exame e o Ceará é um pouco superior a Pernambuco. Vale lembrar que o desempenho do Brasil já é muito ruim quando se compara aos demais países.

Quando se observa o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), para o último ano do ensino médio, que é calculado pelo Inep do Ministério da Educação, Pernambuco tem um desempenho muito bom. Em 2015 as escolas públicas estaduais locais tiveram nota 3,9, ficando em primeiro lugar, junto com São Paulo. No Ceará, essas mesmas escolas obtiveram média 3,4, enquanto a média nacional ficou em 3,5. Ou seja, é nesse nicho específico que o ensino em Pernambuco tem destaque, enquanto o Ceará possui desempenho pobre, ficando abaixo da média nacional. O grande número de escolas de referência de tempo integral, introduzidas no Governo Eduardo Campos e com mais expansão no Governo Paulo Câmara, além das bonificações dos professores por desempenho, certamente são os principais determinantes desse sucesso em Pernambuco.

Quando se observa as estatísticas para o último ano do ensino fundamental, o Ceará tem um certo destaque. Fica em 5º lugar no ranking nacional, com as escolas públicas atingindo média de 4,5, atrás apenas de Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Goiás. A média em Pernambuco atinge 3,8, inferior à média nacional, que é de 4,2. Ou seja, enquanto o Ceará tem desempenho superior à média nacional, Pernambuco tem média abaixo da nacional, entre as escolas públicas. Para os anos iniciais do ensino fundamental (4º e 5º séries primárias) a média nacional das escolas públicas é 5,3, enquanto no Ceará e em Pernambuco elas são 5,7 e 4,6, respectivamente. São Paulo (6,2), Santa Catarina (6,1), Paraná (6,1) e Minas Gerais (6,1) tiveram desempenho superior ao Ceará, que novamente ficou entre os estados ricos da federação. Ou seja, também nessas séries iniciais o Ceará tem desempenho de destaque no país, quando se considera a renda per capita no estado, que se sabe que afeta bastante o desempenho da educação.

Com esses números, pode-se concluir que ambos os estados têm destaque em nichos específicos. Pernambuco, particularmente, possui um ensino médio público de destaque, enquanto o Ceará destaca-se no ensino fundamental. Entretanto, ambos ainda têm muito que melhorar nas suas educações públicas. Seria interessante para os dois estados aprenderem com as experiências do outro para melhorarem a educação nos níveis que não estão bem. O apoio às prefeituras, que são responsáveis pelo ensino fundamental, deveria se tornar uma prioridade em Pernambuco nos próximos anos.

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