Uma síntese sobre o ciúme

Roque de Brito Alves
Professor e advogado

Publicado em: 18/04/2018 03:00 Atualizado em: 18/04/2018 08:44

1 – Na síntese sobre a problemática, o ciúme conceitua-se essencialmente como o medo da perda da pessoa amada por um rival ou suposto ou imaginário rival – o que é mais comum –, variando em suas espécies e forma de manifestação. O ciúme é revelação de imaturidade afetiva, de instabilidade emocional ou de um complexo ou sentimento de inferioridade através de um processo dinâmico ativo, destrutivo, escravizador da personalidade de alguém.

2 – Cientificamente, por sua natureza o ciúme é uma paixão e não uma emoção, sendo uma paixão por si mesma perigosa, criminógena, sendo um estado permanente, duradouro.

3 – Ao contrário do que se pensa, o ciúme distingue-se ou não se identifica com o amor, não é prova de amor como geralmente se afirma e sim de sua distorção ou deformação, sendo predominantemente uma manifestação de amor próprio exacerbado. O ciumento sente-se mais ofendido ou humilhado em seu amor próprio que em seu amor por outrem. Também distingue-se do ódio, da inveja e da vingança e aliás a vingança não é propriamente uma paixão e sim o objetivo final de uma paixão. Ciúme e inveja não são irmãos siameses, porém são muito semelhantes pois o ciúme é o medo da perda do que se tem ou que se pretende ter enquanto inveja-se o que não se tem ou o que não se pode ter.

4 – O ciumento considera a pessoa amada mais como um “objeto” de sua posse exclusiva do que verdadeiramente como “pessoa” em toda sua dignidade.

5 – O ciúme é um estado afetivo, natural, passional, normal e assim nem todo ciúme é mórbido, patológico. Entretanto, pode facilmente atingir uma forma paranoica, anormal pela ideia fixa, pela obsessão ou juízos delirantes, falsos de traição que podem dominar a personalidade de alguém. Mesmo não sendo por si mesma uma paixão patológica, é inegável que perturba a tranquilidade ou normalidade da vida psíquica e tal estado de perturbação é visível no delinquente passional que geralmente é de temperamento hipersensitivo, dotado de muita imaginação, ressentido, psicologicamente atormentado por sua falsa percepção ou interpretação da realidade dos fatos, de gestos e de palavras. As suas dúvidas ou desconfianças da traição da pessoa amada que são produtos de sua imaginação são julgadas como sinônimas de “verdade”, de “prova”, de “certeza” da infidelidade da pessoa amada, o que torna comumente infundado o ciúme como motivo da grande maioria dos delitos.

6 – Há uma distinção entre o ciúme do homem e o ciúme da mulher pois o do homem é mais intenso, predominantemente sexual, e o mulher é mais extenso, mais afetivo ou sentimental abrangendo várias pessoas ou coisas. Também, o ciúme independe de qualquer condição econômica, social, nível intelectual, cultural, podendo atingir a todos indistintamente.

7 – O crime por ciúme é mais comum nas nações latinas pois os latinos são mais passionais que racionais, enquanto os escandinavos, os alemães, etc. são mais racionais que passionais.

8 – Na ficção literária, o personagem Othello da tragédia de Shakespeare é um símbolo perfeito do ser humano escravo do ciúme e do criminoso ciumento.

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