Serviços e comércio: dura recuperação

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/04/2018 03:00 Atualizado em: 14/04/2018 12:39

As estatísticas para fevereiro do setor serviços, o maior da economia, vêm confirmar a lentidão de nossa recuperação, pior do que imaginavam os analistas ao final do ano passado. No primeiro bimestre do ano (janeiro e fevereiro juntos) houve queda de 1,84% no volume de serviços produzido, quando se compara ao mesmo período de 2017. Em Pernambuco essa queda foi ainda mais alarmante. Atingiu 5,11%. Ou seja, um setor que compõe a maior participação do valor agregado na economia do país (52% do PIB sem incluir comércio) iniciou o ano com quedas na sua produção, frustrando as expectativas. O mês de fevereiro praticamente repetiu o desempenho de janeiro, quando se ajusta para o comportamento sazonal, e ambos foram piores do que novembro e dezembro de 2017. Em Pernambuco fevereiro foi pior do que janeiro e ambos os meses foram piores do que dezembro.

O comércio varejista no Brasil, por sua vez, também teve queda no volume de vendas em fevereiro, quando se compara a janeiro desse mesmo ano (com ajuste sazonal), mas o primeiro bimestre teve crescimento de 2,3% quando se compara ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, a população continua a comprar, mas ao menos nos serviços a renda não tem aumentado na forma que justificaria essa maior disposição para gastar. Em Pernambuco, o desempenho do comércio varejista teve a mesma tendência do que a total do país. Queda de 0,2% quando se compara fevereiro a janeiro (com ajuste sazonal) e crescimento de 0,1% quando se compara os dois meses iniciais de 2018 ao mesmo período de 2017.

A provável causa principal para esse arrefecimento da recuperação econômica é a instabilidade política do país. Ainda está difícil prever quem serão os candidatos a presidente que realmente disputarão o pleito e quem deve ser o vitorioso. Tal situação estende-se também a vários estados importantes, como o Rio de Janeiro. Há opções que são radicais à direita e à esquerda. A recente radicalização do PT jogou uma insegurança grande no que seriam as políticas econômicas a serem seguidas pelo próximo governo, caso ele esteja na aliança vitoriosa. Enfim, o cenário político é muito incerto. Diante de tanta insegurança, investidores estão refratários a audácias e mesmo consumidores estão evitando nível elevado de endividamento. Somente exportadores estão se animando, pois tal situação gera alguma desvalorização cambial. As sucessivas derrotas do governo federal na tentativa de contenção do déficit público também têm abalado a confiança dos agentes econômicos. Elas vão desde a dificuldade em conduzir a reforma da previdência, que ficou para o próximo governo, como de aprovar medidas necessárias à privatização da Eletrobras, entre tantas outras. Esses problemas na condução legislativa na verdade são também consequências das incertezas políticas.

Pernambuco segue o mesmo caminho do país. A maior frustração de desempenho em relação ao que ocorreu nacionalmente, contudo, possui determinantes locais. No âmbito da política, as indefinições do MDB e do PT evitam que haja consolidação das alianças em torno das candidaturas para o governo estadual e, por conseguinte, do que se deve esperar de política econômica local. No que diz respeito ao equilíbrio fiscal futuro do estado, que está frágil, essas incertezas também jogam dúvidas quanto a sua condução. Estas incertezas fazem com que economia do estado evolua mais devagar do que era esperado para um estado que projeta crescimento em 2018 maior do que a média nacional. Ou seja, acima de 3%.

Todos esses problemas têm de fato uma origem comum. O Brasil é hoje um país dividido. Não há consenso sobre o poder relativo dos diversos segmentos sociais. A burocracia estatal força a manutenção de seus privilégios nos demais setores sociais e penaliza o empresariado para arregimentar o apoio dos segmentos populares. Sem a segurança necessária, os líderes produtivos empacam nas suas atividades, que são as que puxam a economia.

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