O desperdício nosso de cada dia

Benjamin Rodrigues da Costa Miranda
Consultor financeiro, MBA em Gestão Empresarial pela FGV e engenheiro mecânico pela UFPE.

Publicado em: 11/04/2018 03:00 Atualizado em: 11/04/2018 10:03

Em recente pesquisa feita pelo Instituto Akatu, foi constatado que uma família brasileira joga fora, em média, R$ 180 por mês em alimentos. Isto equivale a dizer que para cada R$ 100 em compras, quase R$ 30 são jogados fora. No Brasil, onde mais de 7 milhões de pessoas passam fome, cheguei a sentir um embrulho no estômago com tamanho desperdício. Para se ter uma ideia, se esse valor perdido fosse colocado em um investimento tradicional todo mês, ao final de 30 anos, se teria próximo de R$ 120 mil, já descontada a inflação.

Sou consultor financeiro e ajudo famílias a gerirem melhor seus recursos. Costumo dizer em meus cursos que o orçamento familiar é o motor do enriquecimento e evitar o desperdício é o seu combustível.

A compra sem planejamento, de alimentos e de outros produtos, como remédios por exemplo, evidencia a nossa quase sempre falta de controle. Recentemente, fui à farmácia comprar um xarope e a balconista me apresentou a versão de 100 ml do produto. Pergunto sempre se é o menor volume comercializado. Ela me disse que não, que existia o mesmo xarope no volume de 60 ml (mas ora, por que não me disse antes?). Minha pergunta me fez trocar o xarope de 100 ml de R$ 50 pelo de 60 ml que me custou R$ 30 (tive uma economia de 40%). E antes que me perguntem, o xarope de 60 ml tem volume suficiente para curar duas gripes iguais a que enfrentava naquele momento. Provoco o leitor a visitar a farmacinha que tem em casa e refletir quais medicamentos são desperdiçados por falta de uso. E se seguiu meu conselho, estimulo-o também a olhar suas roupas e confirmar algumas delas que foram adquiridas por impulso e apenas enfeitam o seu guarda-roupa.

O desperdício vai além... Se por exemplo, alguém tem uma casa de 4 quartos e mora somente com seu companheiro(a), estes podem estar desperdiçando espaço e dinheiro. Se gasta em média 5 Gb de internet no celular e paga um plano de 20 Gb, você também desperdiça. E continua desperdiçando dinheiro quando:

Paga juros altos em financiamentos por falta de um planejamento financeiro;

Paga tarifas bancárias, onde existe um pacote gratuito de tarifas exigido pelo Banco Central e que os bancos não divulgam;

Não inclui o CPF nas notas fiscais de serviços para ter desconto no IPTU;

Não aproveita o desconto da taxa de condomínio ao pagá-la até o vencimento (a maioria oferece esse benefício);

Não utiliza o regime de coparticipação dos planos de saúde, que reduz a mensalidade em troca de pagamento percentual a mais apenas quando usá-lo.

Não pergunta se o pagamento à vista oferece algum desconto na compra. E também quando não divide o pagamento sem juros, caso não tenha tal desconto (lembrei que certa vez comprei uma vela de aniversário para meu irmão de R$ 3 em 10 vezes).

Enfim, são inúmeras oportunidades de usar seus recursos com mais inteligência e sem desperdícios. Pequenos exemplos como esses farão enorme diferença no futuro. O orçamento é um acordo que você faz com seu dinheiro, definindo previamente para onde ele vai no decorrer do mês. Sugiro que liste todas as suas despesas e busque identificar oportunidades de otimizá-las, evitando assim o desperdício nosso de cada dia. 

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