Editorial O horror das armas químicas

Publicado em: 11/04/2018 03:00 Atualizado em: 11/04/2018 10:04

No meio do duelo de informações dos lados em conflito na fratricida guerra civil síria, que já deixou o macabro saldo de mais de 500 mil mortes, a maioria civis inocentes, as nações ditas civilizadas não podem permitir, sob hipótese alguma, o uso de armas químicas, como vem sendo denunciado por organizações internacionais de direitos humanos. A história se repete e o ditador Bashar Assad é acusado de promover ataques com o letal armamento num dos últimos redutos de rebeldes radicais sunitas, em Duma, nas proximidades da capital, Damasco.

As cenas mostradas ao mundo não deixam dúvidas de que a violência ultrapassou todos os limites civilizatórios naquele país do Oriente Médio, que há anos convive com a brutalidade da guerra entre irmãos. São crianças, mulheres e idosos sendo socorridos com jatos de água para a retirada dos agentes químicos de seus corpos, e médicos e paramédicos tentando prover oxigênio para os atingidos. Relatos de rebeldes dão conta de dezenas de pessoas sufocadas até a morte com os bombardeios do fim de semana passado. Verdadeiro horror.

Esta não é a primeira vez que o regime de Bashar Assad é acusado de desferir ataques com armas químicas. No ano passado, após bombardear bastiões de combatentes oposicionistas com gás sarin, deixando 74 mortos, na localidade de Idlib, o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, ordenou o lançamento de dezenas de mísseis Tomahawk contra alvos militares sírios e possíveis fábricas de agentes químicos. Os artefatos acabaram atingindo áreas civis também, provocando mais destruição.

A expectativa é de como reagirá o intempestivo mandatário norte-americano nas circunstâncias atuais. Ele fez ameaças pelas redes sociais ao ditador Bashar Assad, dizendo que a Síria pagará “alto preço” pelo uso de armamento banido por tratado internacional, no último fim de semana. Oportuno salientar que a Convenção sobre as Armas Químicas – o acordo para o controle de armas dessa natureza que proíbe a produção, o armazenamento e o uso desse tipo de armamento – começou a vigorar em 1997 e, atualmente, 189 países fazem parte do tratado, inclusive a Síria.

Trump, cuja reação pode ser mais dura do que no ano passado, também acusou a Rússia e o Irã de estarem por trás do bombardeio em Duma, o que só provoca mais instabilidade numa das regiões mais sensíveis do planeta. A Organização das Nações Unidas (ONU), através de seu secretário-geral, António Guterres, também condenou o uso de armas químicas contra a população civil e pediu investigação imparcial por analistas internacionais.

Como de costume, as acusações foram rebatidas com veemência pela Síria e seus aliados, mas o ônus da prova é do regime de Bashar Assad. Ontem, especialistas foram surpreendidos com um possível convite dos sírios para que a Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) possa investigar o suposto ataque químico em Duma. Se o convite se confirmar e não houver manipulações por parte do governo sírio, a comunidade internacional terá oportunidade de comprovar se houve violação do direito internacional.

O que o mundo não pode aceitar é que civis sejam vítimas de governantes inescrupulosos que não vacilam em lançar mão de meios sórdidos para ganhar terreno no campo de batalha. Se a comunidade internacional não tem meios para impedir a carnificina na Síria, pelos menos exerça toda a pressão para salvaguardar indefesos civis.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.