Renascer na maturidade

Aluísio Xavier
Advogado e ex-presidente da OAB/PE

Publicado em: 07/04/2018 03:00 Atualizado em: 09/04/2018 09:39

Conheci Paulo Azevedo no final do ano de 1973, quando ele concluiu o curso de direito pela Universidade Católica de Pernambuco, de cuja turma o meu querido genitor foi paraninfo. As nossas atividades profissionais se desenvolveram em campos distintos, ele na área trabalhista e eu na cível. Nada obstante isso, conhecia a sua atuação como advogado do Sindicato dos Professores de Pernambuco, vindo a saber, há dias, que, neste 2018, ele completa cinquenta anos de serviços ininterruptos prestados à mesma entidade, pois iniciou o seu vínculo como estagiário no ano de 1968 e depois foi contratado como advogado. Não tenho dúvida de que a manutenção da prestação dos serviços, por tão longo período, atesta a qualidade dos trabalhos por ele executados.

Em 1997, quando da minha reeleição para a presidência da OAB/PE, tomei a decisão de tentar compor uma chapa única, congregando os diversos segmentos da advocacia pernambucana, objetivando, com isso, evitar a disputa eleitoral e o natural desgaste dela decorrente, além de propiciar mais tempo para a administração complementar o projeto de gestão que submeti à categoria na eleição de 1994, que foi aprovado pela maioria absoluta dos eleitores. A tentativa foi exitosa, e Paulo Azevedo integrou a chapa única como um dos representantes da advocacia trabalhista, tendo prestado relevantes serviços à OAB/PE. Na época, ele era presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de Pernambuco, cargo que exerceu por três mandatos.

Há aproximadamente dois anos, em encontro fortuito, Paulo Azevedo me afirmou que a maturidade lhe trouxe muitas coisas boas, entre elas o reconhecimento dos seus equívocos, pois, talvez movido pelo vigor da juventude, atirou pedras para muitos lados, diversas vezes de forma injusta ou desproporcional. Disse-me ele também, na mesma ocasião, que estava recolhendo as muitas pedras e refazendo as amizades que os desencontros da vida separaram, bastante deles, reconhecia, por culpa sua. A maturidade, concluiu ele, em vez da velhice, lhe proporcionou o renascer para uma vida mais saudável. Não fui destinatário de qualquer das pedras por ele atiradas, merecendo destacar que tal não aconteceu nem mesmo na eleição do meu sucessor, quando Paulo Azevedo integrou chapa inexitosa diversa da minha. Entendi o seu proceder como um exemplo a ser seguido e o transmiti a diversas pessoas. Mas acho que ele deve ser difundido de forma mais ampla, como faço através deste artigo, aproveitando o evento do honroso cinquentenário a que me referi no início.

Alguém já afirmou que guardava todas as pedras encontradas no caminho, para, um dia, com elas construir um castelo. As pedras de Paulo Azevedo não são físicas, como também não é físico o cimento com que ele busca recompor as amizades fissuradas, daí a sua impossibilidade de construir um castelo real. No entanto, pode edificar um castelo virtual, para revelar o seu proceder maduro, invisível aos olhos, mas certamente perceptível por todos os homens e por todas as mulheres de boa vontade.

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