Saúde bucal: não ao retrocesso!

Ailton Coelho
Cirurgião-dentista, professor universitário, advogado, presidente do Sindicato dos Odontologistas de Pernambuco (Soepe) e vice-presidente da Federação Nacional dos Odontologistas (FNO).

Publicado em: 04/04/2018 03:00 Atualizado em: 04/04/2018 09:41

Todo mundo sabe que a saúde bucal sempre foi uma das maiores mazelas brasileiras. Não por acaso, por décadas, fomos chamados de ‘o país dos desdentados’. E isso é, ao mesmo tempo, uma vergonha e um contrassenso – pois, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil forma os melhores cirurgiões-dentistas do mundo, profissionais do mesmo nível dos suecos e americanos!

E nesse momento crítico em que vivemos, a má notícia é que as coisas estão piorando para o segmento mais carente da nossa população. Vivemos um verdadeiro desmonte, um retrocesso geral na área da Saúde Pública – que atinge em cheio o atendimento dentário. Como presidente do Sindicato dos Odontologistas no Estado de Pernambuco (Soepe), considero inaceitável a atual situação.

Historicamente falando, o serviço público de atendimento dentário só teve um grande salto, qualitativo e quantitativo, com o ‘Brasil Sorridente’. Esse programa, criado em 2004, conseguiu a proeza de implantar, pela primeira vez na história, uma política pública de saúde bucal para todo o País.

Para se ter uma ideia de seu alcance, basta conferir os números. Até 2003, eram 2.314 equipes atuando em saúde bucal. Em 2015, graças ao ‘Brasil Sorridente’, esse número saltou para 24.467 equipes – ou seja, cresceu mais de dez vezes em apenas onze anos! Ocorre que, nesses últimos dois anos, ao invés de continuar crescendo, o número de equipes de saúde bucal vem diminuindo.

Para estancar a ‘sangria’, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei do Senado (PLS) 8/2017, já aprovado pelos senadores. De autoria do senador Humberto Costa, esse PLS visa transformar o programa ‘Brasil Sorridente’ em política de Estado, impedindo o desmonte desse serviço de saúde bucal, tão importante para população, por mudanças de governo.

Portanto, faço um apelo aos parlamentares federais de Pernambuco: aprovem esse projeto! Ele deverá constar da Lei Orgânica da Saúde, garantindo o acesso à saúde bucal como um direito de todos – e como um dever do Estado. Também é importante lembrar que, entre tantos benefícios, o programa ‘Brasil Sorridente’ valoriza nossa categoria, abrindo um enorme mercado de trabalho para os cirurgiões-dentistas.

Para finalizar, ressalto que o Sindicato dos Odontologistas de Pernambuco (Soepe) vem realizando, com grande esforço, um trabalho junto às prefeituras no sentido de sensibilizar os prefeitos para a contratação de mais dentistas, por meio de concurso público, para atenuar o déficit da saúde bucal neste Estado. Afinal, mais de 60% da população pernambucana continuam sem atendimento público por cirurgiões-dentistas... Com a palavra, os senhores prefeitos.

Estamos atuando junto ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e vamos continuar lutando por salários decentes para a nossa categoria. Cuidar da saúde das pessoas é a mais nobre de todas as atividades. Que os cirurgiões-dentistas e suas entidades se unam ainda mais, pelos avanços e conquistas que a odontologia brasileira merece.

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