Filho de bandido pode ser doutor

Ary Avellar Diniz
Diretor do Colégio Boa Viagem e da Faculdade Pernambucana de Saúde

Publicado em: 03/04/2018 03:00 Atualizado em: 03/04/2018 06:25

Foi, enfim, decretada a intervenção federal no Rio de Janeiro, medida judicial que se fez necessária, a fim de cessar os constantes tiroteios, principalmente nos morros, que provocam mortes de contendores e pessoas inocentes nas comunidades carentes e locais circunvizinhos.

O clamor de paz tem sido geral e é alcançado mediante um processo realizado de restauração dos princípios básicos inerentes aos valores humanos.

Há exemplos de situações semelhantes acontecidas em Miami, há mais de trinta anos, e as direcionadas à Máfia (Cosa Nostra) e Camorra italianas. Tudo voltou à calma.

A realidade, hoje, tem conotações diferentes daquela época, levando-se em consideração o uso desenfreado de armas contrabandeadas muito mais sofisticadas, bem como grande volume de recursos financeiros circulantes em poder de inconsequentes marginais.

O governo federal pretende ir mais longe, ao criar o Ministério da Segurança Pública; mas, neste artigo, nos deteremos exclusivamente na intervenção na Cidade Maravilhosa, aliás, quase ex-Maravilhosa.

Estrategicamente, apresenta-se em maior grau de dificuldade a manutenção dos locais conquistados, equiparável apenas à árdua ocupação do terreno, exigindo-se todavia, em ambas as operações, principalmente unidade de comando.

Conclui-se, dessa maneira, que não é somente expor a tropa ao cenário beligerante; ao lado disso, cumpre aliar estratégias militares inteligentes ao controle das operações relacionadas aos problemas estruturais de segurança pública, no intento de se alcançar o bem-estar social.

Ressalve-se que, infelizmente, por falta de planejamento eficaz, a ocupação da polícia na favela da Maré (Rio) resultou em malogro. A tropa permaneceu 14 meses no local, ao custo de R$ 1,4 milhão por dia. Após a saída dos militares, a referida comunidade carente tornou-se mais periculosa que antes (publicado na Folha de São Paulo desta semana).

Logo após o controle da situação, a educação deve ser ministrada de imediato e considerada primazia em relação a qualquer outra medida saneadora…

A realidade é que os jovens das comunidades carentes e respectivos pais necessitam de maciço apoio de profissionais selecionados e qualificados, com o objetivo de incrementar as atividades socioeducacionais, aliviando, assim, o sofrimento da população local.

São eles: professores, cuja atividade primordial é transmitir conhecimentos (ensino e formação), no intuito de possibilitar ao jovem e sua família inúmeros benefícios advindos da implementação das educações doméstica e escolar. A população carente consegue subir na escala social motivada pelos meios adquiridos de valorização pessoal mediante o estudo e a disciplina; assistentes sociais, responsáveis pela melhoria dos princípios de procedimentos comportamentais e adjutores de atividades sadias, direcionadas aos filhos e aos pais e responsáveis; mestre em educação física, planejando e executando constantes práticas esportivas, tendo como feedback as competições entre as comunidades carentes. Certamente surgirão atletas olímpicos, cobrindo as lacunas vergonhosas nas várias olimpíadas de que o Brasil já participou, principalmente na modalidade de atletismo; corpo médico-hospitalar, facultativos incentivadores da longevidade saudável, interagindo com as equipes de nutricionistas; religiosos, semeadores de atividades espirituais e ecumênicas, no propósito de resgatar os valores morais e transcendentais aos desviados do bem-viver. A religião ainda é um dos mais eficientes meios de afastar as tendências dos maus instintos pessoais; psicólogos, a fim de minimizar os sofrimentos emocionais daquele sacrificado membro comunitário, entusiasmando-o a viver, e não a morrer precocemente; sociólogos, pesquisadores das filigranas das sociedades humanas e das leis que regem as relações sociais, as instituições etc.; equipe de voluntários, para atuar em atividades diversas que se fizerem necessárias. O esforço é de todos, coadjuvados pelas ONGS, sindicatos, igrejas, iniciativas privadas etc.

A proposta em apreço é de difícil implantação, mas, na vida, nada é fácil! Requer muita determinação, amor ao próximo e à Pátria.

O pai, considerado bandido, muitas vezes por força do desemprego e outras circunstâncias desditosas, sentir-se-á bem mais tranquilo tendo seu filho “doutor” o mais cedo possível. Amanhã, esse desejo se voltará para seus netos…

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