Editorial Violência não é justiça

Publicado em: 03/04/2018 03:00 Atualizado em: 03/04/2018 06:26

A melhor forma de combater o radicalismo e instabilidade não é com mais radicalismo e instabilidade - é com serenidade. Por isso deve-se saudar o pronunciamento feito ontem pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, às vésperas do julgamento do habeas corpus em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante das tensões do momento, ela teve uma postura à altura do cargo que ocupa. Ao destacar que o país vive dias de “intolerância” e “intransigência conta pessoas e instituições”, Cármen Lúcia pediu “serenidade para romper o quadro de violência”.

Não faz parte da tradição da Corte pronunciamentos dessa natureza diante de casos polêmicos. Mas não significa uma demonstração de fraqueza do Supremo nem de sua presidente. É antes, como avaliaram analistas ouvidos ontem pela imprensa, uma tentativa de acalmar os ânimos.

“(...) este é um tempo em que se há de pedir serenidade. Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social. Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade”, disse ela.

Nos últimos dias o país tem visto, com temor, uma escalada de violência e tensão política. Primeiro o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol), do Rio. Em seguida, a denúncia de que disparos de arma de fogo foram efetuados contra ônibus da caravana de Lula no Paraná. Depois, ameaças contra um ministro do Supremo, Edson Fachin, e a sua família, que tiveram a segurança reforçada. Outro magistrado do STF, Gilmar Mendes, foi hostilizado por populares durante passeio a Lisboa, onde passava o feriado da Páscoa. Um vídeo com imagens desse ato reverberou nas redes sociais.

Acrescente-se a tudo isso um julgamento de um ex-presidente, evento que mobiliza paixões de um lado e outro. Chamou atenção, por exemplo, manifestação de militares da reserva, defendendo que o Supremo não conceda o habeas corpus solicitado pelos advogados de Lula. A concessão, no entender do general de exército da reserva Luiz Gonzaga Lessa poderá estimular violência entre brasileiros.

Evidente que, de parte a parte, há muito blefe entre os que dizem que o país “irá explodir” se o Supremo tomar esta ou aquela decisão. Mas de blefe em blefe alimenta-se a instabilidade e a intolerância. Fora da lei não há salvação. E sem respeito à democracia e à pluralidade de opiniões não se tem uma sociedade civilizada. Daí o mérito da presidente Cármen Lúcia em seu pronunciamento de ontem, pedindo serenidade e repudiando agravos e insultos “contra pessoas e instituições pela só circunstância de terem ideias e práticas próprias”. É o óbvio, mas em tempos como o que estamos vivendo há legiões fazendo questão de não ver isso.

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