Preocupações eleitorais: Facó, Lula, Marielle

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 02/04/2018 09:00 Atualizado em:

Em 1963 deixei o Colégio Salesiano, internato – 60 e 61 – e externato – 62 – para estudar no Colégio Aquidiocesano.  Ano muito marcante na minha vida porque comecei, na verdade, a formar uma visão do mundo, a partir das  lições humanistas dos padres, mas com uma marca profunda vinda do socialismo que sacudia o mundo, sobretudo da revolução cubana. Todos nós, aliás, fomos tocados por isso. Para o sim ou para o não. Foi nesse ano que o jornalista cearense Rui Facó lançou a sua obra-prima Cangaceiros e Fanáticos, pela Editora Civilização Brasileira, com um projeto gráfico arrojado, e uma visão inteiramente renovadora destes movimentos sociais, feita a partir da formação das massas miseráveis do interior do país. Assim, o livro de Facó teria, como teve, um peso especial na minha compreensão do fenômeno humano e, pelo óbvio, da natureza humana do meu país e do Nordeste brasileiro.

Lembrei-me deste livro e de suas lições por causa de recente artigo que o meu prezado amigo Everardo Norões publicou no Suplemento  Pernambuco, da Cepe, editado exemplarmente por Schneider Carpeggiani. Facó morreu em acidente aéreo na Bolívia e não teve tempo de debater suas ideias na academia e com estudiosos. Uma das ideias centrais do livro é a de que cangaceiros e fanáticos eram formados por grupos armados em busca de justiça social. Ousadia que lhe custou o silêncio quase imediatamente. A academia manteria até hoje a visão sociológica de Euclides da Cunha e seus seguidores, sem recorrer a uma reflexão política.

Foi justamente em 63 que li este livro, embora de maneira apressada, ainda sem preparação suficiente para compreender completamente porque tinha 15 anos incompletos e formação intelectual irregular e imprecisa. Muitas vezes deixei-o na estante sem ler uma linha sequer. A política vinha-me apenas nas conversas familiares e através de manchetes de jornais. Mesmo assim o Brasil estava às vésperas da ditadura. A televisão ainda não exercia o papel magnético de hoje. Mesmo assim havia  radicalização. E mudanças políticas bem fortes

Velho, vejo-me densamente preocupado com a eleição que se avizinha por causa de um crescente clima de radicalização e violência que se estabelece no país. Não tenho nenhum Facó para me dizer novidades, mas observo tudo com angústia. Muita angústia. O assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio, é, em si mesmo, um ato político. Este crime é intolerável. Assim como o atentado sofrido pela caravana de Lula, no Paraná. Lula é um líder político, ex-presidente da República e candidato, portanto, um político em ação. Neste caso, o atentado é político. Também é ato político colocar dúvida no atentado. Sem esquecer o assassinato de líderes comunitários. Preocupação, preocupação, preocupação.

Certa violência vem das redes sociais e é preciso ter cuidado e atenção moderadora. Basta usar com habilidade o Facebook, o Twiter, ou outra tecnologia qualquer. Todos nós podemos pacificar, acalmar, unir. Vamos buscar a nossa justiça social no voto. A urna nos espera. Podemos construir, com certeza. Democracia se constrói assim – com habilidade e sem radicalismo apressado. Vamos evitar a violência. Por amor ao país. E o país somos nós. Não é verdade?

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