Editorial O fantástico caso de Demóstenes

Publicado em: 28/03/2018 03:00 Atualizado em: 28/03/2018 09:04

Se o nobre leitor viajasse no tempo e desembarcasse em 12 de julho de 2012 poderia ler na capa do jornal O Globo daquele dia a seguinte manchete: “Senador que pôs o mandato a serviço de bicheiros é cassado”.  Texto em site do jornal, relembrando o caso, afirma: “Demóstenes Torres posava de defensor da ética e foi o relator, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, do projeto que resultou na Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura de políticos condenados e daqueles que renunciam a mandatos para não serem cassados. Seu mundo caiu quando uma investigação da Polícia Federal revelou que ele atuava como lobista do bicheiro Carlinhos Cachoeira, responsável pela montagem de um vasto esquema de corrupção no governo e pivô do escândalo conhecido como máfia dos caça-níqueis de Goiás. Para não ser afastado, ele pediu desligamento de seu partido, o DEM, mas foi cassado pelo Senado Federal em 11 de julho de 2012”.

Gravações feitas pela Polícia Federal indicavam que ele teria recebido do bicheiro uma cozinha de presente. Outas acusações diziam que ele vazava informações do Congresso para Cachoeira e estaria envolvido em tráfico de influência em diversos órgãos federais.

Imagine que, não satisfeito com a leitura de apenas um jornal, o leitor daquele 12 de julho de 2012 comprasse outro, a Folha de S. Paulo. Em matéria daquele dia,  intitulada “Senado cassa Demóstenes, e CPI tende a perder força”,  o jornal paulista informava: “O Senado cassou ontem por 56 contra 19 o mandato de Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), acusado de mentir sobre suas relações com Carlos Cachoeira e de usar o cargo para beneficiar o empresário, preso por suspeita de chefiar um esquema de corrupção. Foi a segunda vez que em 188 anos que a Casa decretou a perda do mandato de um senador por quebra de decoro. A decisão, feita em sessão aberta e por voto secreto, deixa Demóstenes inelegível até 2027, oito anos após o fim de seu mandato”.

De volta a março de 2018, seis anos depois, o nobre leitor chegaria com a convicção de que como político Demóstenes estava acabado, e que não havia dúvidas sobre sua culpabilidade. O noticiário, porém, agora é outro. “O ministro Dias Toffoli, do STF, decidiu afastar a inelegibilidade do ex-senador Demóstenes Torres (GO) e abrir caminho para que ele concorra nas próximas eleições”, informa matéria de ontem da Agência Estado, do jornal Estado de S. Paulo. Antes, em dezembro do ano passado, ele já havia obtido outra vitória que mudava os efeitos do caso: por unanimidade a Segunda Turma do STF anulou a decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que o afastara do cargo de procurador.  A Segunda Turma considerou nulas as interceptações telefônicas utilizadas contra el e nas investigações.

Demóstenes reassumiu o cargo de procurador e agora, conforme o noticiário, se movimenta para tentar sair candidato a governador ou ao Senado, por Goiás.

Ao relembrá-lo, não entramos no mérito deste caso. Queremos apenas lembrar como num curto espaço de seis anos a realidade pode ser transformada.

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