A arte de Victor Moreira
Anco Márcio Tenório Vieira
Professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.
Publicado em: 27/03/2018 03:00 Atualizado em: 27/03/2018 08:38
Quando leio esses versos de Os Lusíadas — “e aqueles que por obras valerosas/ se vão da lei da morte libertando” —, sempre penso: qual é o lugar reservado ao Brasil no concerto das nações modernas? Caso o futuro não lhe reserve nenhum lugar, o que nos libertará da “lei da morte”, se o destino nos oferecer apenas o mero e eterno papel de expectador que, sentado e impassível, vê o espetáculo do mundo passar diante dos seus olhos? O que nos libertará da “lei da morte”, uma vez cumprida a sentença de Claude Lévi-Strauss? No caso, que estamos fadados, enquanto povo, a passarmos da “barbárie à decadência sem conhecermos a civilização”.
O que nos salva, creio, e vem nos salvando por definitivo da “lei da morte”, de passarmos da “barbárie à decadência sem conhecermos a civilização”, são as “obras valerosas” que produzimos e continuamos a produzir nos últimos 500 anos. Não as “obras valerosas” dos nossos políticos que, salvo raríssimas exceções, sempre viram o espaço público e a coisa pública como extensões dos seus interesses pessoais; muito menos das elites econômicas que, salvo outras raríssimas exceções, continuam vendo o Brasil como uma colônia de exploração; mas as “obras valerosas” legadas por todos que ergueram monumentos arquitetônicos e urbanísticos, pintaram, esculpiram, escreveram, encenaram, fotografara, filmaram, dançaram e compuseram obras que dignificam e alargam o imaginário da humanidade e, principalmente, reoxigenam o campo das linguagens artísticas.
Se, por um lado, para lembrarmos aqui Gilberto Freyre, somos, do ponto de vista sócio-econômico-político, uma ostra doente, por outro, houve quem, ao longo da história, soube extrair desse molusco “pérolas valerosas”. Entre esses nomes, encontra-se o do artista e figurinista Victor Moreira, objeto de uma biografia — A Arte de Victor Moreira, — escrita por outro artista não menos talentoso: o professor, cenógrafo e ator Marcondes Lima.
Nesse livro, cada página revela a delicadeza de quem nasceu para ver pérolas onde nós, pobres mortais, só víamos e vemos ostras doentes. Não só: a obra revela como um homem dotado de sensibilidade e inteligência é capaz de produzir, ao longo de seis décadas, um volume quase infinito de estampas, modelos, modas, fantasias carnavalescas, eventos, cenários, designer interiores de casas e hotéis e ainda ter contribuído de modo significativo, como figurinista, para o teatro brasileiro, como é exemplo os figurinos que produziu para o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), em particular para as encenações de Macbeth (1964), A capital Federal (1965) e Inês de Castro (1972) e, principalmente, para os atores de a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, talvez, aqui, o seu trabalho mais conhecido no mundo.
Porém, a leitura agradável de A Arte de Victor Moreira não encobre uma ou outra questão que poderia ter sido melhor problematizada. Exemplos: as relações de Victor Moreira com o psicodelismo dos anos 60 e 70 (suas criações estão marcadas com o espírito dessa época) e a sua preocupação em criar uma moda para os trópicos. Neste caso, ele, Victor Moreira, estabeleceu algum diálogo com aquilo que Freyre ou Flávio de Carvalho defendiam como uma moda tropical? Não sabemos. Dúvidas à parte, terminamos o livro não só orgulhoso de quem soube tirar “pérolas valerosas” de uma ostra doente chamada Brasil, mas certo de que mais uma vez este País se libertou da “lei da morte”.
O que nos salva, creio, e vem nos salvando por definitivo da “lei da morte”, de passarmos da “barbárie à decadência sem conhecermos a civilização”, são as “obras valerosas” que produzimos e continuamos a produzir nos últimos 500 anos. Não as “obras valerosas” dos nossos políticos que, salvo raríssimas exceções, sempre viram o espaço público e a coisa pública como extensões dos seus interesses pessoais; muito menos das elites econômicas que, salvo outras raríssimas exceções, continuam vendo o Brasil como uma colônia de exploração; mas as “obras valerosas” legadas por todos que ergueram monumentos arquitetônicos e urbanísticos, pintaram, esculpiram, escreveram, encenaram, fotografara, filmaram, dançaram e compuseram obras que dignificam e alargam o imaginário da humanidade e, principalmente, reoxigenam o campo das linguagens artísticas.
Se, por um lado, para lembrarmos aqui Gilberto Freyre, somos, do ponto de vista sócio-econômico-político, uma ostra doente, por outro, houve quem, ao longo da história, soube extrair desse molusco “pérolas valerosas”. Entre esses nomes, encontra-se o do artista e figurinista Victor Moreira, objeto de uma biografia — A Arte de Victor Moreira, — escrita por outro artista não menos talentoso: o professor, cenógrafo e ator Marcondes Lima.
Nesse livro, cada página revela a delicadeza de quem nasceu para ver pérolas onde nós, pobres mortais, só víamos e vemos ostras doentes. Não só: a obra revela como um homem dotado de sensibilidade e inteligência é capaz de produzir, ao longo de seis décadas, um volume quase infinito de estampas, modelos, modas, fantasias carnavalescas, eventos, cenários, designer interiores de casas e hotéis e ainda ter contribuído de modo significativo, como figurinista, para o teatro brasileiro, como é exemplo os figurinos que produziu para o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), em particular para as encenações de Macbeth (1964), A capital Federal (1965) e Inês de Castro (1972) e, principalmente, para os atores de a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, talvez, aqui, o seu trabalho mais conhecido no mundo.
Porém, a leitura agradável de A Arte de Victor Moreira não encobre uma ou outra questão que poderia ter sido melhor problematizada. Exemplos: as relações de Victor Moreira com o psicodelismo dos anos 60 e 70 (suas criações estão marcadas com o espírito dessa época) e a sua preocupação em criar uma moda para os trópicos. Neste caso, ele, Victor Moreira, estabeleceu algum diálogo com aquilo que Freyre ou Flávio de Carvalho defendiam como uma moda tropical? Não sabemos. Dúvidas à parte, terminamos o livro não só orgulhoso de quem soube tirar “pérolas valerosas” de uma ostra doente chamada Brasil, mas certo de que mais uma vez este País se libertou da “lei da morte”.