Editorial Água: a crise anunciada

Publicado em: 23/03/2018 03:00 Atualizado em: 23/03/2018 08:46

O Dia Mundial da Água, comemorado ontem, foi instituído durante a 2ª Conferêncial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Eco-92), realizada no Rio de Janeiro, em julho de 1992. Vinte e cinco anos depois, o Brasil recebe representantes de 160 países, entre eles 12 chefes de Estado, reunidos em Brasília, desde domingo, para tratar do tema no 8º Fórum Mundial. Cerca de 30% dos 7,6 bilhões de habitantes do planeta não têm acesso à água potável e mais de 50% não são atendidos por serviços de saneamento básico.

Entre 1990 e 2015, aumentou de 76% para 91% a parcela da população global atentida por fonte de água potável. Mas pelo menos 2,5 bilhões de pessoas do planeta não têm acesso a serviços de saneamento nem sequer a banheiros ou latrinas, revela estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela organização, o sexto prevê, até 2030, “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos”.

Vários fatores contribuem para esse cenário global. A situação é agravada pela falta de planejamento na expansão das áreas urbanas, do desmatamento, da má gestão dos resíduos sólidos, do lançamento de efluentes nos corpos hídricos e do desperdício por mau gerenciamento das redes de distribuição. Embora seja considerada essencial à vida e haja consciência de que é um recurso finito, a água não tem merecido políticas públicas adequadas a sua preservação e produção.

No Brasil, 917 municípios convivem com a seca. A crise hídrica é realidade para 16% das cidades, entre elas a capital da República, que, há quase dois anos, vive em sistema de racionamento. Exceto, os municípios do semiárido nordestino, que padecem os efeitos de fenômenos climáticos, no restante das grandes cidades, a dificuldade de abastecimento de água tem estreita relação com a má gestão. Vazamentos nos dutos, por falta de manutenção, e fraudes que correspondem a quase 40% do desperdício de água no país.

Entre os 5.570 municípios, 4.490 (81%) despejam pelo menos 50% do esgoto produzido diretamento nos cursos d'água, sem qualquer tratamento, segundo o Atlas Esgotos — Despoluição da Bacias Hidrográficas, divulgado, em setembro do ano passado, pela Agência Nacional de Águas (ANA). O argumento de praxe dos gestores públicos é a falta de recursos financeiros para implantar as usinas de tratamento de efluentes e os aterros sanitários. A ausência de definição do que é prioritário para a saúde e a vida das pessoas está, na maioria das vezes, na raiz das crises na saúde e na economia.

Na primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, há 45 anos, ambientalistas e especialistas alertavam para a finitude da oferta de água e para a crise que o planeta enfrentaria caso não revisse o seu modelo de uso e consumo. A advertência do passado se transformou em realidade. Hoje, a escassez do recurso está entre uma das principais causas dos movimentos migratórios em todo o globo, com graves impactos sociais e econômicos. A questão é uma das mais debatidas no 8º Forum Mundial da Água, que se encerra amanhã. Garantir água para todos, como objetiva a ONU, passa não só pela revisão de prioridades das políticas públicas, mas sobretudo pela educação, para que as pessoas tenham consciência, evitem o desperdício, a poluição e a destruição dos recursos naturais.

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