Editorial A síndrome de Down e a ignorância

Publicado em: 21/03/2018 03:00 Atualizado em: 21/03/2018 08:48

Celebra-se hoje, em todo o mundo, o Dia Internacional da Síndrome de Down, data criada para dar voz e visibilidade às pessoas que nasceram com a síndrome e defender o direito delas à inclusão, combatendo a ignorância e a discriminação. Por coincidência, tivemos no Brasil, nos últimos dias, um caso que diz respeito a esses princípios, envolvendo a desembargadora Marília Castro Neves Vieira, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, segundo informa matéria publicada ontem no El País Brasil com o título “Desembargadora que ofendeu Marielle criticou Zumbi dos Palmares e pediu fuzilamento de Jean Wyllis”.

Eis trecho da matéria: “Em um grupo fechado do Facebook intitulado ‘Juízes’, Vieira debochou de pessoas com síndrome de Down. A desembargadora diz ter ouvido no rádio que ‘o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de Down!!!’. Ela continua: ‘Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem? (sic) Esperem um momento que fui ali me matar e já volto, tá?’”.

A postagem gerou reações, inclusive da professora citada, Débora Araújo Seabra de Moura, que em carta do próprio punho escreveu: “Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras. Aceitem as diferenças de cada uma. Ajudem a quem precisa mais”. E concluiu: “O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso!”.  

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down divulgou uma “carta aberta de repúdio” às declarações. E o procurador regional da República Wellington Cabral Saraiva, mestre em Direito pela UnB, escreveu numa rede social:  “A desembargadora Marília Castro Neves (do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), em comentário de extrema desumanidade, desrespeito e desconhecimento da lei (em particular do Estatuto da Pessoa com Deficiência [EPD] – Lei 13.146, de 6/7/2015), fez publicação menosprezando a Professora Débora Seabra de Moura, por ela ter síndrome de Down e exercer essa profissão. Além da falta de empatia e de respeito, a desembargadora ignora que o EPD busca promover a máxima inclusão social, econômica e profissional das pessoas com deficiência”.

A síndrome de Down “é uma ocorrência genética natural e universal, presente em todas as etnias e classes sociais”, diz texto da ONG Movimento Down, acrescentando: “Pessoas com a síndrome têm rompido muitas barreiras e apresentado grandes avanços. Em todo o mundo, e também no Brasil, há pessoas com síndrome de Down estudando, trabalhando, vivendo sozinhas, se casando e chegando à universidade”.  Infelizmente, no Brasil de 2017 ainda tem gente que ignora  isso.

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