Intérprete de Jesus Cristo que se aposenta

Giovanni Mastroianni *
opiniao.pe@DIARIODEPERNAMBUCO.com.br

Publicado em: 19/03/2018 03:00 Atualizado em: 19/03/2018 09:28

Sempre que se aproxima a semana santa, faço a ilação da profissão de radialista, que exerci no passado, concomitante com a de advogado, à criação, em Fazenda Nova, distrito de Brejo da Madre de Deus, neste estado, separada, agora, por estrada asfaltada, cerca de 200 quilômetros de Recife, à Nova Jerusalém, que, há cerca de meio século, se constitui, sem sobra de dúvida, no maior teatro ao ar livre do mundo.

Nomes logo me vêm à lembrança e o primeiro deles não poderia deixar de ser: Epaminondas Mendonça, comerciante local, idealizador do drama, que encenava sua criação nas ruas não pavimentadas daquele lugarejo do agreste pernambucano. O primeiro papel de Jesus Cristo foi interpretado pelo saudoso e grande amigo Luiz Mendonça, que viria, tempos depois, tornar-se um ator e autor de primeira linha, nas principais capitais do país, deixando muito cedo uma lacuna no teatro. Foi ele quem se lembrou de convidar o comunicador  Plínio Pacheco para conhecer o lugar, do qual o gaúcho logo se apaixonou, tanto pela ideia de criação de um teatro, onde vislumbrou encenar, ao seu talante, a peça, que vira nas ruas de terra batida, como por sua diva, com “D” maiúsculo, Diva Mendonça, com quem viria, tempos depois, casar. Encantado com as pedras do lugar, imaginou transformá-lo em um cenário miniaturizado, nos moldes de semelhança à Judeia.

Tive a honra de ser um dos radialistas  participantes da primeira  reunião em que expôs à imprensa seus planos de transformação de uma terra de clima semi-árido, montanhosa, de vegetação rasteira e pedregosa,em um cidade cenográfica, hoje patrimônio cultural, material e imaterial de Pernambuco, réplica da região onde viveu Jesus, construída em uma área de 100 mil  metros quadrados, cercada por 3.500 metros de muralha, onde se destacam suas torres. Também, valorizam e enriquecem seu interior vários lagos artificiais e nada menos do que nove gigantescos palcos, construídos sobre as pedras que a natureza criou e que tanto encantaram seu idealizador.

Outro nome que jamais poderia ser omitido é o do ator José Pimentel, que há meio século participou de cenas da Paixão e, posteriormente, interpretou Jesus Cristo, em Nova Jerusalém.Quando o papel passou a ser confiado aos mais famosos atores da televisão, José Pimentel institui uma nova Paixão de Cristo, agora no Recife, onde, durante dezenas de anos, viveu o personagem principal da história

Até atingir esse patamar e ser reconhecido em todas as camadas sociais como “Jesus Cristo”, José Pimentel interpretou papéis de soldado romano, demônio, juiz, governador e até Pôncio Pilatos, antes de se metamorfosear no “rei dos judeus”até atingir as lideranças de diretor e produtor da peça.

Já com idade avançada, Pimentel teria que pensar em um substituto, aqui no Recife, onde os espetáculos são gratuitos e bastante concorridos, exibidos em praça pública. Para a encenação bíblica de Cristo foi selecionado o ator amador Hemerson Moura, que já desempenha o papel há mais de uma dezena de anos.

Conheci Pimentel quando recém-chegado de Caruaru juntei-me ao rol de atores da TV-U, onde ele integrava o elenco de teatro da emissora ao lado de Renato e Wanda Phaelante. Milton e Maria de Jesus Bacarelli, Luiz Maranhão Filho, Ivanise Palermo, José Mário Austregésilo e tantos outros.

Ao dirigir a Escola Superior de Relações Públicas, sempre que os alunos eram designados para convidar um famoso para ser entrevistado, José Pimentel, na maioria das vezes, era o escolhido.

* Advogado, administrador e jornalista

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.