Financiamento do investimento no Brasil

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/03/2018 03:00 Atualizado em: 19/03/2018 09:29

A crise recente tem trazido com ela várias mudanças estruturais na economia brasileira. Algumas delas são de ordem institucional, como a reforma trabalhista e estabelecimento de teto para o crescimento dos gastos públicos, entre outras. Há, contudo, outras mudanças que são na lógica de funcionamento dos agentes privados, independentemente de alterações em regras institucionais. Entre elas está a mudança na estrutura do financiamento do investimento no país. A primeira e mais óbvia foi a queda na participação do BNDES no total. Em 2013 esse banco respondeu pelo financiamento de 15,1% da formação bruta de capital fixo (FBKF) no país. Em 2017 esse percentual caiu para 5,3%. Por causa de limites orçamentários, o BNDES teve que devolver recursos ao Tesouro Nacional e com isso reduziu sua capacidade de emprestar. Assim, mesmo tendo havido queda da participação da FBKF no PIB de 20,6% para 15,6% nesses mesmos anos, ainda assim o BNDES teve sua participação bastante reduzida. Outra mudança importante foi a queda da participação de recursos próprios dos investidores nesse financiamento. Em 2013 eles representaram 48,4%, enquanto em 2017 eles só atingiram 46,1%, tendo atingido 42,1% em 2016. Ou seja, as poupanças das empresas e dos empresários também tiveram uma queda substancial no financiamento dos investimentos no Brasil. Os investimentos diretos estrangeiros, por sua vez, elevaram sua participação de 15,4% para 24,3%, tendo atingido 30,5% em 2016. Ou seja, dependemos mais dos investimentos estrangeiros para ampliar ou manter nossa capacidade produtiva.

Esse novo perfil de financiamento do investimento é saudável por um lado, quando reduz a dependência do BNDES, um banco público, mas é perverso por outro, quando há queda da participação de fontes nacionais. Isso mostra que as empresas estrangeiras ganharam competitividade relativa em comparação às nacionais, o que é perverso por criar um passivo a ser pago no futuro com mais remessas de lucros ao exterior. Quando se percebe que esse ganho de competitividade adveio principalmente do menor custo financeiro, percebe-se que a política monetária foi mal conduzida. Ela não pode ser motivo para desnacionalização da economia, pois isso representa uma conta que estamos deixando para as futuras gerações que não adicionou necessariamente maior capacidade produtiva. Apenas deslocou a construção de patrimônio nacional por estrangeiro.

A maior participação do mercado de capitais no financiamento dos investimentos foi muito tímida. Ela saiu de 8,6% em 2013 para 10,5% em 2017, mas atingindo apenas 8,4% em 2016. O mercado de capitais aumenta a transparência e a organização nas empresas, além de democratizar a propriedade delas. Por tal, ele é a fonte mais saudável, apesar de elevar um pouco o custo operacional das empresas por causa dos sistemas de controle que se introduz nelas. Sua participação tende a reduzir a corrupção e erros na alocação de recursos já que há muita auditoria no que se faz e nas decisões tomadas. Não houve política para a sua elevação, o que teria sido saudável. A redução de custos com menos exigências da Receita Federal e outros órgãos de controle, incluindo-se aí com destaque a CVM, poderia ajudar nesse processo de expansão do mercado de capitais no financiamento dos investimentos. Essa chamada desbancarização do sistema financeiro tem efeito positivo no crescimento econômico.

Ou seja, houve mudanças positivas e negativas. Acredito que elas ocorreram sem nenhum planejamento do governo federal. Apenas foram casuais, resultante das estratégias próprias dos agentes em momento de crise. Talvez fosse importante o próximo presidente se preocupar com isso, pois a estrutura de tal financiamento dos investimentos pode ter efeito de longo prazo importante no desempenho de nossa economia.

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