Editorial Conter a barbárie

Publicado em: 16/03/2018 03:00 Atualizado em: 16/03/2018 08:17

A execução a tiros da vereadora Marielle Franco (Psol), do Rio, anteontem à noite, na área central da cidade, nos lança direto a um desafio: é preciso conter o avanço da barbárie. Quando um acontecimento brutal como este acontece (além da vereadora, foi morto também o seu motorista, Anderson Pedro Gomes), significa que estamos num vácuo de autoridade, de confiança na impunidade e de agressão à atividade política e social.  O primeiro passo é o de esclarecer o crime e chegar aos culpados. O segundo é o de todas as forças democráticas se convencerem de que as eventuais diferenças entre elas não deve impedir uma ação conjunta contra esse estado de coisas.

A situação em que vive o país - poderes em xeque, governantes e líderes políticos atacados em sua credibilidade, ascensão de sentimentos agressivos em relação ao diferente, retórica hostil tomada como normal - cria uma ambiência favorável a crimes dessa natureza.  Marielle era mulher,  negra, gay, ativista social e militante política - o seu assassinato causa dor e revolta não só às pessoas de sua convivência ou aos adeptos de sua luta, mas a todos que prezam a convivência civilizada.  Ao mesmo tempo, é assustador pela ousadia que carrega - e pelo que pode estimular no futuro, se não houver uma reação efetiva e exemplar.

As autoridades do país manifestaram sua reação ao ato. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, informou que o caso será investigado pela Polícia Federal, e garantiu: “Quem cometeu esse bárbaro crime não ficará impune”. O presidente da República, Michel Temer, disse que o crime é “inaceitável, inadmissível, como todos os demais assassinatos que ocorreram no Rio”.

A reação chegou também às ruas. O velório da vereadora foi acompanhado por milhares de pessoas, na Câmara do Rio.  Houve manifestações lá, em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e aqui no Recife. Em todas elas ergueu-se o grito de “Justiça!”.  A mobilização ecoou também nas redes sociais, tornando-se o assunto mais comentado. O crime foi notícia em jornais internacionais de referência, como The New York Times (EUA), The Guardian (Inglaterra) e Le Monde (França).

A reação deve continuar nos próximos dias. Precisa continuar. É fundamental que em todo o país a sociedade demonstre sua desaprovação. Como disse ontem a cantora Zélia Duncan, ao escrever sobre o crime, “que a indignação e a tristeza nos empurrem não para dentro de nós apenas, mas para a rua”.  Essa é uma das maneiras não só de impedir que os criminosos fiquem impunes, mas também de fazer com que a barbárie não siga adiante em nosso país.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.