Editorial Um espião que veio do passado

Publicado em: 15/03/2018 03:00 Atualizado em: 15/03/2018 09:51

Em uma tarde de domingo, após almoçar, um ex-espião russo e sua filha sentaram-se em um banco de praça, na cidade britânica de Salisbury, a cerca de 100 km de Londres. Logo em seguida passaram mal e foram levados às pressas para um hospital, onde encontram-se em estado crítico. O detetive encarregado de investigar o incidente esteve no local e depois também passou mal - encontra-se em estado igualmente grave, no mesmo hospital. O caso aconteceu no último dia 4, mas hoje, 10 dias depois, já virou uma crise diplomática.

Ontem o governo britânico expulsou 23 diplomatas russos, considerados “oficiais de inteligência não declarados”, e anunciou uma série de medidas de retaliação. A premiê britânica Theresa May também informou que a família real não irá à Copa do Mundo, a ser realizada na Rússia, em junho e julho. A congressistas, ela disse que a utilização em solo britânico de uma substância tóxica produzida na Rússia constituía-se em um “uso de força ilegal”. Descreveu a resposta do governo russo como um ato de “sarcasmo, desprezo e provocação”.

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia considerou “bruta e hostil” a expulsão dos seus diplomatas, afirmando que “nossa resposta não demorará muito a chegar”. Em outro trecho a nota diz: “Nós consideramos categoricamente inaceitável e sem valor que o governo britânico, em seus objetivos indecorosamente políticos, agrave mais seriamente as relações, anunciando uma série de medidas hostis, incluindo a expulsão de 23 diplomatas russos do país”.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, também entrou na história, afirmando em telefonema a Theresa May que levava “extraordinariamente a sério” a possibilidade de o ataque ter sido obra da Rússia.

A investigação da polícia britânica aponta no sentido de que o ex-espião (Sergei Skripal, de 66 anos) e sua filha, Yulia, de 33, foram envenenados por um gás neurotóxico, que acabou afetando também o detetive que foi investigar o incidente.

Para entender a situação é preciso saber que o russo Sergei Skripal tinha sido um agente duplo: no começo ele espionava a Inglaterra para a Rússia, mas depois começou a trabalhar também para os britânicos. Acabou descoberto pelo governo russo e preso em 2004. Foi libertado numa troca de espiões entre Rùssia e Reino Unido, em 2010 - e desde então ele e a filha foram morar em Salisbury.

Pelos personagens envolvidos e pela retórica empregada nas manifestações de parte a parte, é possível avaliar a gravidade da crise. No momento em que em algumas partes do mundo parece que a história está andando para trás, a ocorrência de um ex-espião russo envenenado por um gás tóxico nos remete para o que parece um roteiro de filme de espionagem dos anos 1990.

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