Editorial Pessimistas e otimistas

Publicado em: 14/03/2018 03:00 Atualizado em: 14/03/2018 09:18

A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem presta-se a muitas considerações. Nos chamou atenção o percentual dos brasileiros que estão pessimistas e otimistas com as próximas eleições presidenciais - o resultado parece trazer, ao mesmo tempo, sinais de alerta e de alento.

Primeiro, os que estão pessimistas: somam 44%, de acordo com a pesquisa. É um percentual muito alto - corresponde a quase metade dos entrevistados. Os itens mais votados como justificativa do pessimismo são corrupção (30%), falta de confiança nos governantes e candidatos (19%) e falta de confiança nos pré-candidatos (16%). Não é bom para nenhum país ter parte do seu eleitorado descrente da escolha do próximo presidente, acreditando que, por falta de opções, a situação corre riscos de piorar ou manter-se ruim. A desconfiança reflete diretamente a crise de representação política que temos visto nos últimos anos, e não só no Brasil, com o questionamento da legitimidade de lideranças e legendas partidárias.

Este é o dado que se enquadra como sinal de alerta. Já o resultado que entra como sinal de alento é o dos otimistas com as eleições: são 20%. Pouco menos que a metade do grupo anterior, mas mesmo assim suficiente como uma espécie de âncora do sistema - em meio ao tsunami de denúncias, processos, revelações escabrosas, práticas condenáveis, em meio a tudo isso há um percentual de brasileiros que acredita que a situação pode melhorar com os nomes que estão aí. As principais razões do otimismo desses entrevistados são a expectativa de mudança e renovação (32%), esperança no voto e participação popular (19%), o sentimento de que se espera melhorias de forma geral (11%) e melhorias econômicas (9%).

Depois dos “pessimistas” e “otimistas”, a pesquisa identificou que 23% não se definem como uma coisa nem outra, e 13% não quiseram dar opinião. O levantamento foi realizado entre os dias 7 e 10 de dezembro de 2017, e ouviu cerca de duas mil pessoas em 127 municípios brasileiros.

Sabemos todos que pesquisa é “retrato do momento”, mas o mundo da política deveria prestar atenção nesses resultados, porque eles mostram a ebulição em que está o país. Ou, melhor dizendo, em que estão os brasileiros.  Não podemos ver os “pessimistas” como aqueles que já abandonaram suas convicções democráticas, nem os “otimistas” como lenientes com a crise ética e política. Os dados do levantamento CNI/Ibope podem ser lidos de diversas maneiras; nós preferimos interpretá-los como mostra de um sentimento que todos nós cultivamos: o sentimento de um Brasil melhor,  sem os maus exemplos que temos visto. 

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