Pauline

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 13/03/2018 03:00 Atualizado em:

Semana passada, Elyanna Caldas organizou na APL belo concerto no qual se ouviram composições em honra das mulheres neste mês de março. Árias de Operas, composições para soprano e tenor, com Raquel Casado ao piano, deleitaram grande público na tarde de domingo. A ótima interpretação de Casta Diva por Nadja Souza, nos comoveu. Em seguida o tenor Gauss Lins, que faria com Nadja belo dueto da Traviata,tomou a palavra e nos apresentou uma composição de Pauline Viardot, que homenageava compositoras, esquecidas através do século, impedidas de frequentar academias e se apresentar em público. Ótima, a lembrança de Pauline, velha conhecida que ocupa várias páginas de minha biografia de George Sand (ainda inédita). Nascida em 1821, aluna de Liszt e de Berlioz, Pauline fez duetos com Chopin. Desejara uma carreira de pianista, sonhava acompanhar a irmã, a grande Malibran em suas turnês pelo mundo. Mas se tornou cantora de sucesso. Aos 17 anos conquistou Paris. Sand apresentou a adolescente a seu amigo, o escritor e político Louis Viardot, 40 anos. União sonhada por Sand: arte, humanidade, sensibilidade, respeito mútuo, se juntariam. Viardot, modesto e abnegado, se fez empresário da esposa, acompanhando-a em turnês, abdicando a direção de um dos mas importantes teatros de Paris, o Théatre des Italiens. Como Sand, ele viera à capital sem muitos recursos, vivera em pequenas acomodações, trabalhara com afinco para se fazer reconhecer. Discípulo de Pierre Leroux, frequentara salas de leitura onde lia Voltaire e Roussau por dois tostões a sessão. Tornara-se jornalista e crítico de arte respeitado. Sand viu em Pauline uma filha, uma imagem de mulher e artista: boa, caridosa, profissional dedicada ao aperfeiçoamento de sua arte, modesta, amiga, e fez dela o modelo para seu romance Consuelo. Em carta, Sand fala de amizade: “Vou amar você ainda e sempre. Espero que você saiba disso e, por isso, me consolo de seus silêncios dizendo-me que a gente não se esquece daqueles dos quais se sabe muito amado. Pelo menos é o que me acontece com meus melhores amigos, aos quais escrevo tão pouco, que até tenho remorso, mas quando o faço, sei bem que não os encontrarei armados com algum rancor contra mim, mas ao contrário encantados com minha lembrança. Nunca é tarde demais para dar prazer às pessoas”. Após a leitura de Consuelo, Pauline escreve: “Como você é feliz em poder proporcionar tais alegrias aos seus leitores. Não posso lhe dizer o que sinto desde Consuelo. Sei que a amo mil vezes mais, e estou orgulhosa de ter sido um dos fragmentos que lhe serviu a criar esta admirável figura. Será sem dúvida o que terei feito de melhor neste mundo”. No verão de 1841, em seu castelo de Nhoant, Sand recebe os amigos. Enquanto Viardot caça nos arredores com o irmão de Sand, Pauline e Chopin estudam partituras. À noite, após o jantar, reunião no jardim, Sand e Pauline dançam a bourrée. Depois, a romancista se recolhe para escrever, enquanto Chopin toca, no quarto preparado por Sand, no final do corredor, ainda hoje aberto aos visitantes.

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