A mobília pernambucana do passado

Roque de Brito Alves
Membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano

Publicado em: 07/03/2018 03:00 Atualizado em: 07/03/2018 10:23

1 – No Recife, a partir de 1822, a arte da marcenaria foi muito desenvolvida e dominada pelos grandes artistas estrangeiros que aqui se estabeleceram com as suas oficinas. Foram eles os alemãs Remígio Kneip (1845-1875) e Guilherme Spieler e os franceses François Beranger e Julien Beranger (pai e filho) e Antoine Moreau (1862-1876), grandes ebanistas ou entalhadores que fabricaram a melhor mobília pernambucana das famílias nobres da época.

2 – Os dois Beranger destacaram-se entre todos, criando, inclusive, o denominado “Estilo Pernambucano” dos móveis, principalmente nos sofás da sala de visitas.

Os dois Beranger apaixonados pelas nossas flores e frutas tropicais, apresentavam sempre, uma série de talhas com tais motivos, criando o denominado estilo “Beranger”, diferente da mobília que era usada na Bahia, Minas Gerais e Maranhão que era de estilo Barroco. Os móveis quase sempre trabalhados em jacarandá com os seus encostos simbolizando cajus, abacaxis, romãs, com os assentos em palhinha dos sofás.

3 – Moreau, entalhador de Paris, com a tenda de marceneiro na Rua das Cruzes e após na da Imperatriz foi um fabricante especialmente de sanefas para cortinas, de molduras para quadros e de mobília de luxo, tendo recebido prêmios na Exposição Provincial de 1866, 1872 e 1885.

4 – Os móveis de Spieler, particularmente as “penteadeiras” (com tampo de mármore, espelho de cristal belga), armários e guarda-roupa são em geral, de talha grossa, em um estilo um tanto opressivo, pesado enquanto que os de Kneip apresentam um trabalho mais requintado nos motivos e talhas relembrando o estilo rococó.   

5 – A partir de 1850, sob a influência do estilo Luis Filipe (França) e da Era da Rainha Vitória (Inglaterra) começou a  ser fabricada no Recife a mobília denominada de “Medalhão” para as salas de visitas das mansões, em madeira nobre como jacarandá, amarelo, mogno. Caracterizava-se pelas roldanas nos pés dos sofás e cadeiras, talha fina no encosto e tabela das cadeiras, representando, em relevo rosas e margaridas, sendo as mobílias mais simples com palhinha no encosto e as mais ricas com o mesmo entalhado, com motivos de flores ou de formas (volutas) que lembram o estilo barroco ou mesmo rococó. Foram apresentados, com tal estilo, dois móveis bem curiosos: “a conversadeira” para duas pessoas que ficavam frente a frente para as “fofocas” das comadres ...  e a  “espreguiçadeira” para um pequeno sono ou descanso  geralmente depois do almoço. No centro da sala de visitas havia uma mesa chamada “jardineira”, com tampo mármore de Carrara e bem trabalhada nas suas pernas e pés.

6 – São magníficas mobílias ainda existentes no salão nobre do Palácio do Governo, no Museu do Estado, na Fundação Joaquim Nabuco (muito numerosa e de beleza excepcional), na Academia Pernambucana de Letras, no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, no Teatro Santa Isabel, na Casa Grande do Engenho  Morenos, etc. etc.

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