Editorial Política vive guerra de gerações

Publicado em: 07/03/2018 03:00 Atualizado em: 07/03/2018 10:23

O tabuleiro de xadrez político do Brasil, as peças começam a mover-se com rapidez, melhorando as posições de uns e piorando a de outros. Em São Paulo, ao que tudo indica, o prefeito da capital, João Doria, deve ser o candidato tucano ao governo paulista. Óbvio que isso não quer dizer, a piori, que ele seja um bom ou mau candidato, mas é inegável que se trata de um fato surpreendente, dado que Doria é um “novato” na política, e está a pouco mais de um ano cumprindo mandato. O gesto de deixar o cargo para disputar outro, em tão curto espaço de tempo, implica riscos, conforme já analisamos em outra oportunidade, neste espaço. Mas faz parte do jogo.

O diretório estadual do PSDB acaba de decidir pela manutenção da data para a eventualidade de haver prévias no partido, nos dias 18 e 25 de março. A bancada tucana na Assembleia Legislativa já se definiu por Doria. Há uma lista de assinaturas de vereadores, deputados estaduais e federais em apoio ao nome do prefeito. A data limite para as inscrições é 13 de março, na próxima terça-feira. Não será surpresa se não aparecer nenhum outro nome, e Doria ser confirmado como o candidato. As articulações em curso visam fazer com que possíveis postulantes desistam da disputa. “Se outros pré-candidatos não declinarem, vamos para as prévias”, disse o presidente da Assembleia, Cauê Macris.

O que está acontecendo em São Paulo é um espelho de uma tendência que aparentemente deseja estender-se para vários locais, mas cujo desfecho ninguém pode prever: a de uma guerra de gerações, com os “novos” querendo entrar enquanto os mais antigos lutam para manter-se. Em política, existe um fenômeno tradicional, conhecido como “estar na fila” - antes de concorrerem aos principais cargos, os “novos” fazem como que um “percurso de reconhecimento”, galgando aos poucos as posições que lhe levarão à disputa dos principais cargos. Quando este “sistema” é atropelado, diz-se que aquele que o fez “furou a fila”.  Pois bem, em tese, é isto que Doria está fazendo em São Paulo - ele tentou antes, na disputa presidencial; não deu certo e agora tenta na sucessão estadual.

O ato de “furar a fila”, neste sistema, pode ser praticado com o apoio dos líderes do partido, ou contra eles. Em cada um dos casos, há consequências. É um gesto arriscado, com riscos não só para o presente - mas para o futuro. Doria deve estar ciente disso, porém quando se empreende marcha dessa natureza, não resta espaço para pensar em consequências.

É impossível prever, nesse embate de gerações que estamos vendo, quem sai vencedor. Nenhuma geração entrega o poder a outra sem lutar muito para que isso não aconteça. E também não se pode dizer que, no entrechoque de posições,  uma ou outra garanta uma hegemonia tranquila. No espaço de quatro anos - o período de uma eleição - muita coisa pode mudar. Vejam, por exemplo, o que acaba de acontecer na Itália, onde o polêmico Silvio Berlusconi retoma o protagonismo político no país, aos 81 anos. Política é a guerra em tempos de paz. Quem se apressa em ir para o combate talvez não esteja entre os vitoriosos, ao fim das batalhas. Doria é o exemplo de quem entrou na política e quer logo “chegar lá”. Veremos como as urnas tratarão os adeptos dessa opção.

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