Editorial Indústria: pouco a comemorar

Publicado em: 06/03/2018 03:00 Atualizado em: 06/03/2018 10:39

A indústria de transformação cresceu 2,2% em 2017. Apesar do avanço, tem pouco a comemorar. A participação do setor no Produto Interno Bruto (PIB) despencou para 11,8%, a menor desde os anos 1950. A retração do segmento, longe de ser fenômeno recente, arrasta-se há décadas. Vale lembrar que, ao longo dos anos 80 do século passado, o incremento ultrapassou 20%.

Especialistas não creditam o retrocesso à crise da qual o país vem se afastando paulatinamente. A sempre adiada solução de problemas estruturais responde por boa parte dos problemas. Um deles é o sistema tributário — complexo, oneroso e gerador de litígios. Sai governo, entra governo, sem que o assunto seja enfrentado com determinação. Mudanças aqui e ali alimentam o noticiário, mas conservam inabaláveis os alicerces do atraso.

Outro calcanhar de Aquiles é a inovação. A desindustrialização precoce inibe pesquisas e reduz a produtividade. O setor, diferentemente do agrícola, exige mão de obra qualificada. Aí, bate de frente com a educação. O país universalizou o acesso à escola, mas não abriu as portas do conhecimento. Em disputa com economias globalizadas, perde pontos e posições. Quantidade sem excelência mantém o Brasil em situação de desigualdade frente aos concorrentes mundiais.

Sabe-se que o amadurecimento econômico se efetua em degraus. O processo se inicia com o setor primário (agricultura), passa pelo secundário (indústria) e chega ao terciário (serviços) — sem saltos ou queima de etapas. Não é, porém, o que se observa no Brasil. Dados da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) comprovam que a queda nacional foi mais acelerada que nos demais países. Em 17 anos (de 1975 a 1992), a participação do setor no PIB mundial teve redução de 25%. Aqui, o percentual chegou a 38%.

O xis da questão: o índice verde-amarelo longe está de significar avanço. O país se desindustrializa sem enriquecer. Quando o processo começou, o PIB per capita era de US$ 11 mil. Nas nações desenvolvidas, quando se deu a transição, era de US$ 20 mil. Em bom português: passamos de uma etapa para outra antes de atingir determinado nível de renda. Mudamos de rota antes da hora.

Criou-se um hiato. A fase de desenvolvimento industrial é necessária para o acúmulo de capital e conhecimento produtivo. É ela que permite a passagem sustentável rumo a empregos com maior sofisticação intelectual e mais produtivos. A defasagem representa desafio que precisa ser olhado de frente.

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