Viva o 6 de março!

George Cabral
Doutor em História pela Universidade de Salamanca e Presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano %u2013 IAHGP.

Publicado em: 28/02/2018 03:00 Atualizado em: 28/02/2018 09:18

Se há um estado brasileiro que pode se orgulhar de seu passado, esse estado é Pernambuco. Nossa terra foi o palco de alguns dos mais marcantes lances da construção da história do Brasil. O pernambucano, de forma geral, gosta de se orgulhar de sua terra, embora muitas vezes desconheça a sua história. As efemérides são momentos privilegiados para a conscientização histórica de nossa população. Mediante campanhas educativas, é possível habilitar nossa cidadania para transformar o simples bairrismo em uma imersão cabal na reflexão sobre nossa formação como povo. Um excelente exemplo foi o conjunto de celebrações relativas ao Bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817. Ações de divulgação foram realizadas na capital e em diversas cidades do interior do estado com apoio do governo do estado e de diversas instituições culturais. Ora, e por que celebrar 1817? É difícil escolher entre as muitas razões para rememorar a Revolução do 6 de março, mas me arrisco a tentar sintetizar todas elas em uma frase: porque naquele momento Pernambuco ofereceu ao Brasil o mais vanguardista projeto de nação com chances reais de florescer nestas plagas. Muitas das bandeiras defendidas pioneiramente pelos pernambucanos naquela ocasião continuam válidas e necessárias o que demonstra a absoluta necessidade de refletirmos sobre aquele evento histórico.

Em muito boa hora a deputada estadual Terezinha Nunes retomou, juntamente com o também deputado estadual Isaltino Nascimento, o seu projeto inicialmente aprovado em 2007 de criação de um feriado estadual para Pernambuco. Naquela ocasião, após ampla discussão pública, escolheu-se por sua representatividade e densidade histórica o dia 6 de março. Em 2009 uma nova lei suprimiu o feriado e estabeleceu que o evento seria celebrado no primeiro domingo de cada mês de março, uma medida que não correspondeu à grandeza do que 1817 representa para nós e para o Brasil. Constatada a injustiça cometida contra a memória de 1817 e de seus mártires, a Alepe aprovou o projeto encampado pelos parlamentares citados que restabeleceu o feriado (Lei 16.059 de 8/6/2017). A lei determina também a realização de uma semana dedicada ao estudo da história de Pernambuco nas redes de ensino de nosso estado.

Não se trata, portanto, de apenas mais um feriado, como algumas visões equivocadas tentam fazer crer. Trata-se da oportunidade de celebrar criticamente um dos mais belos lances de nossa história, injustamente minimizado pela historiografia oficial e ainda não compreendido plenamente por alguns setores da sociedade pernambucana. É inimaginável, por exemplo, que os gaúchos, paulistas e baianos questionem a importância de suas datas magnas – respectivamente: 20/9 (Rev. Farroupilha); 9/7 (Rev. Constitucionalista) e 2/7 (Independência da Bahia). Nas celebrações do centenário, em 1917, o presidente Wenceslau Braz determinou que o 6 de março fosse feriado nacional. Deveria o ser permanentemente, mas a historiografia oficial da República fundada no Rio de Janeiro em 1889 escolheu outro mártir e outra data como marco da luta pela liberdade no Brasil. Cabe a nós pernambucanos combater essa injustiça. Façamos nosso dever de casa. Viva Pernambuco! Viva o 6 de março de 1817!

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