Editorial Candidatos entre a pressa e a paciência

Publicado em: 28/02/2018 03:00 Atualizado em: 28/02/2018 09:17

A essa altura já praticamente afastado da disputa presidencial,  o atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), está agora em movimento rumo ao governo de São Paulo. Ontem sua pré-candidatura ganhou impulso com a oficialização do apoio ao seu nome dado pela bancada tucana na Assembleia Legislativa de São Paulo. Até aí, nada demais - quem governa uma cidade com o gigantismo e o peso político da capital paulista pode sonhar com qualquer posto. O ponto em discussão, porém, é que Doria tomou posse em janeiro de 2017 - e pouco mais de um ano depois, já pode deixar o cargo.  

Sem entrar no mérito da questão (avaliação que caberá ao eleitor de São Paulo, caso a candidatura se confirme), a possibilidade de o prefeito renunciar para concorrer ao governo estadual gera dois pontos que merecem análise. O primeiro é o risco intrínseco ao ato (sobre o julgamento presente e futuro dos eleitores); o segundo é a constatação do crescimento vertiginoso de Doria como homem político - ele, que costuma dizer “não sou político, sou administrador”, esteve na lista de presidenciáveis e agora pode disputar o governo de São Paulo.

A crônica política brasileira registra dois casos emblemáticos de políticos que deixaram cargo executivo no meio do mandato para concorrer a posto maior.  Waldir Pires, na Bahia, é um deles: tomou posse como governador em 1987 e em 1989 renunciou para ser vice na chapa presidencial de Ulysses Guimarães, pelo PMDB. Perdeu a eleição nacional e, posteriormente, o apoio majoritário do eleitorado baiano.

O outro caso é de São Paulo, numa trajetória semelhante a que pode ser trilhada agora por Doria. Eleito prefeito de São Paulo em 2004, José Serra (PSDB) renunciou ao cargo para concorrer ao governo do estado em 2006. Deu certo; foi eleito. Só que, como governador, ele também não completou o mandato: governou de janeiro de 2007 a abril de 2010, quando saiu para disputar a Presidência da República. Desta vez, foi derrotado (por Dilma Rousseff). Dois anos depois, concorreu novamente à Prefeitura de São Paulo - novo insucesso (perdeu para Fernando Haddad). Em todas suas campanhas desde 2006, os adversários utilizam o discurso de que ele não completa mandato.

Política não é uma ciência exata. É uma atividade de risco, com característica binária: ganha ou perde. A um político não se pode impedir que deixe de aproveitar o seu prestígio do momento - se ele acha que é hora de correr o risco, tem todo o direito de submeter o seu nome à aprovação do partido. Alguns políticos sabem esperar;  outros têm a pressa do aqui e agora - este parece ser o caso de João Doria. Só o futuro poderá dizer se a pressa será a sua felicidade ou a sua danação.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.